O Desperado das 6

Uma das peripécias de Serafim Saudade

Velho Oeste Americano, 1952, Camarate City
No relógio do padeiro batiam as 18 horas. Nuvens de poeira arrastavam-se pela cidade mais ou menos deserta, acompanhadas por pedaços de papel, lixo, que voavam ao sabor do vento.
O Sol ofuscava o horizonte, e tingia as nuvens de tons cor de rosa. Paneleirices, pensou o que, no horizonte, apareceu. Era um cavaleiro andante, forte, poderoso, macho.
Lentamente, foi-se aproximando da cidade, sem pressa, tranquilo...
Ao chegar a Camarate City, desmontou e pisou o chão. Ficou feliz. Esticou as pernas. Coçou o traseiro e pôs-se em marcha.
O silêncio pesado foi perturbado pelo tilintar das esporas, pelas passadas de gigante, pela escarra no chão. O cavaleiro era conhecido como Serafim “El Mascador”, pois mascava palitos. Vinha todo nu, à excepção do lenço vermelho do Benfica que trazia ao pescoço, da fivela de prata que "agarrava" os dois revólveres de última geração à cintura e das suas botas pretas. Trazia uma navalha no bolso. O cavalo, companheiro de muitas andanças, dirigiu-se suavemente para o bebedouro, pois queria matar a sede... PUM! Acabou morto. O cheiro a pólvora provinha do revólver que já tinha voltado para o coldre de El Serafim. Este desperado não gostava de cavalos desobedientes, quer beber água que peça!
Dirigiu-se para o saloon. Quando estava a subir os degraus, um pedinte, o Bruno, que ali estava, tocou na sua perna e pediu uma esmola... PUM! Morreu, Serafim não gostava de ser tocado, tinha tocadofobia.
Entrou no saloon, impondo respeito e medo.
Foi até ao balcão, e pediu um whiskey. A barman Filipa serviu-lhe.
Serafim provou... PUM! Estava morno e ele tinha calor. As pessoas olharam todas surpreendidas, a querer o saber o que se passava... PUM! Serafim não gostava de ser o centro das atenções. Quer se dizer, gostava, mas não lhe apetecia.
Saiu do saloon. Deslocou-se até ao outro lado da rua para comprar uma montada nova. Comprou um camelo, e quando pagou, Ivan baralhou-se no troco... PUM! Serafim não gostava que se baralhassem no troco.
Meteu-se no Hotel. Não pagou nem nada, matou o dono, e ficou com o Hotel. Expulsou os clientes. Queria estar sozinho. Vestiu-se e meteu-se na banheira. Pôs um cachimbo na boca. Sorriu deliciado. A morte bateu-lhe à porta. Mas não a deixou entrar. Só que a sacana era esperta. Esperou que ele saísse.
Serafim saiu e foi surpreendido pela morte, que tinha uma foice, e Serafim, antes que ela algo dissesse, foi-se. Ela só queria pedir-lhe um pouco de açúcar.
Meteu-se no camelo e deu de frosques. O desperado anti-social abalou da cidade, todo nu, com uma navalha no bolso...


Fim