quarta-feira, 19 de maio de 2010

Cá-a a Boca 37 - O Tesouro da Juju

Depois dos acontecimentos de “A Gran Cruzada da Juju”

1951, Chesterfiel City, depois do Duelo entre Rita e Duarte
Rita está deitada no chão. Duarte também. É noite. A Disfarçada olha em redor, e não vê ninguém. Agarra nos dois, por ser muita forte e leva-os para um celeiro. Atira-lhes com um balde de estrume para a cara. Ambos acordam:
- Que nojo! – diz Rita despertada. Rita tinha uma pala no olho.
Duarte olha para Rita Não Marques e, esquecendo o estrume que tinha no corpo, agarra-lhe o pescoço e tenta sufoca-la, chamando-lhe terríveis nomes. De repente, leva com um bastão nas mãos:
- Calma Duarte! – diz a Disfarçada.
- O que é que tu queres ó lagarta coxa? – pergunta Duarte furioso – como é que eu estou aqui? Tu matas-te-me! E antes disso eu matei esta coisa ao meu lado!
- Esta coisa tem nome ó guarda portão de uma quinta! – diz Rita irritada.
- Voltas a dirigir-me a palavra dou-te nos cornos!
- Eu não tenho cornos ó cadela!
- ACABOU! – grita a Disfarçada, que, farta daquela conversa que não a envolvia, tira o capucho e revela-se, é a Filipa Oscilação.
- Tu... – diz Duarte – eu sabia...vi logo, naquele dia, quando olhei para os teus olhos, mas não havia olhos, apenas...
- Sim, já percebi, a situação é a seguinte, quero que trabalhes para mim Duarte... – diz a Filipa.
- Então e ela? Não?...ahahah foi excomungada... – diz Duarte a provocar a Rita.
- Ela já trabalha para mim.
Rita pôe a língua de fora.
- E porque eu haveria de trabalhar para ti? – questiona Duarte.
- Porque eu não te quero nada mal Duarte, pelo o contrário, o teu bem...quero partilhar o enorme tesouro da Juju...
- Nem parece teu Filipa...mas enfim, eu aceito...o que é que eu tenho de fazer?
- Coisas...
- E eu Filipa? – pergunta Rita, envolvendo-se na conversa.
- Tu vais ser a Disfarçada, enquanto eu, Filipa Oscilação, aparecer em público, para deixar incógnita a identidade da Disfarçada. E quando não estiveres no fato da Disfarçada, estarás numa mala, para as pessoas pensarem que estás morta. Comprende?
- SIM SENHOR! – diz Rita, pronta a servi-la.
- Sim senhora! – diz a Filipa, corrigindo a Rita – mas antes, Duarte, o que aconteceu entre ti e a Rita para estares tão irritado com ela?
- Deu-lhe um espasmo...
- Ahn? – pergunta Filipa
- Estavamos a conversar e de repente deu-me um chapadão, e disse que foi sem querer, que teve um espasmo. Da primeira vez ri-me, da segunda também, mas acontece que à terceira ela exagerou e quando o fez, eu cai em cima do meu porco de estimação, e ele morreu.
- Assassina... – diz a Filipa muito triste – então fazemos assim, se a Rita quando estiver com as vestes da Disfarçada, for descoberta, podes mata-la e assumir a liderança.
Duarte nada diz, apenas sorri:
- Concordas Rita? – pergunta a Filipa.
- Não! Obviamente que não! – diz Rita.
- Então mete uma rolha, que ordem minha é sagrada! – diz Filipa.
- Porque é que nos atiras-te com estrume? – pergunta Duarte.
- Para acordarem mais depressa...e não é estrume, é chocolate!
- A sério? – diz Rita que começa a comer o que afinal não é estrume.
- Não.

Castelo do Duarte, Caixinivel City, 1952, 28 de Novembro
Faltavam uns minutos para umas horas. Ainda era noite clarinha. Duarte, que fez uma pausa da campanha pelo tesoiro da Juju, achou por bem, convidar umas pessoas a sua casa, para provar que não era anti-social. Mandou, inclusive, convites a reis e rainhas, a presidentes, a gente importante. Mas ninguém respondeu. Por isso convidou antes a ralé, Serafim e Filipa, para uma jantarada e uma cartada. Mas os convidados tinham boca grande, e conversa puxa conversa, convidaram o Bruno, a Mariana, a Disfarçada e o Ivan. Duarte, permitiu. Queria provar que era um bom anfitrião. Depois, ao perceber-se que ia a malta toda, para fazer uma pausa da cruzada pelo tesouro, menos a Juju, teve uma rica ideia, transformar a jantarada numa reunião pela paz, para se unirem todos contra a Juju.
O Serafim foi o primeiro a chegar. Pudera, sabia que a comida era de graça. Os outros atrasaram-se. Mas Duarte e Serafim Saudade aguardaram. Para matar o tempo, assassinos, jogaram um pouco de bilhar, mas como o Duarte começou a perder, disse que o jogo era estúpido. Foram então ver uma partida de futebol. Na televisão, claro. Mas Serafim começou a criticar o Duarte por não perceber muito daquilo, e o Fernão deu meia volta e foi-se embora. Depois, lá desistiu do amúo e voltou, com o monopólio, mas o Serafim disse que não e mandou-o catar macacos. Ele foi. Os outros convidados nunca mais chegavam. Duarte regressou do catamento e contou uma piada seca. Não tinha graça nenhuma. Serafim olhou para ele. Duarte ria-se que nem um desvairado. “Não teve o mínimo de humor”, pensou Serafim, que, enojado e agoniado disse, atirando toda a raiva e desprezo para a sua única palavra proferida:
- Palhaço...
Duarte cessou o riso. Ficou muito sério. Não há palavras para descrever a sua reacção. A maneira como o Serafim o disse, o insulto em si, deixou o Duarte passado da cabeça. Palhaço era o pior insulto que se lhe podia fazer. Louco de raiva, e dono de uma fúria imensa, sacou da mão direita e, lentamente, deu um soco a Serafim, que caiu direitinho no chão, devido à potência do murro.
Duarte desata a rir. Serafim desata a chorar. Duarte aproxima-se do sofredor, e, no meio de uma gargalhada maléfica diz:
- Chora bebé, chora! Quanto mais choras menos mijas!
- Vou chamar o meu pai! – diz Serafim derretido em lágrimas.
- Então chama! – diz Duarte parando de rir – que dou-lhe porrada também.
A porta da sua casa arrebenta. Era o pai de Serafim. Veio defender a sua criação e espetou um pontapé na pança do Duarte.
A porta arrebenta outra vez. Era o pai do Duarte. Todo musculado. E ali, encorpado e irritado, dispara uma faca da sua mão em direcção ao pai do Serafim. Falhou. Mas logo de seguida investiu contra ele e encheu-o de porrada.
A porta arrebentou de novo. A sorte é que reparava-se sozinha. Era o avô do Serafim, pai do seu próprio filho, separou os dois, acabando com a pancadaria, e reprimiu o seu fedelho, agarrou-lhe a orelha e colocou-o de castigo, enquanto o pai do Duarte encomendou frango.
Por fim, Serafim, já quase sem forças, anestesiado com o Duarte em cima dele, decide recorrer à sua última fonte de recursos, à sua salvação. Chama a sua bisavó, Cacilda Serafim.
Cacilda Serafim. Assim que chegou impôs respeito. Ou era como ela queria ou não era. Como avó do pai de Serafim, fez o que qualquer uma faria, foi visita-lo à prisão onde ele aguardava, de castigo, oferecer-lhe bolos, engordá-lo. Ele ficou feliz, e ela foi-se embora, para defender o seu bisneto, que estava a levar um tareião do Duarte. Entretanto, alguém toca à campainha. O pai do Duarte vai todo feliz a correr, a pensar que era o frango, mas não, era a Filipa Oscilação, com uma garrafa de vinho tinto. Tira-lhe a garrafa e fecha a porta.
A campainha toca outra vez. O pai do Duarte já estava achar estranho, porque a casa não tinha campainha. Abre a porta. Era a Mariana e o Ivan, que traziam um bolo.
Tira-lhes o bolo e fecha a porta.
Bateram à porta. O pai do Duarte, Fernando Fernão, já se estava a passar. Abre a porta. Era o Bruno e a Disfarçada, que não traziam nada:
- Não trazem nada? – pergunta Fernando.
- Nãooo... – diz Bruno como se óbvio e engraçado.
- Que vergonha... – diz Fernando, fechando-lhe a porta na cara.
Os renegados, que permaneciam lá fora, apercebendo-se que não iam entrar pela porta, vieram pela chaminé. Fernando, que estava sentado, no sofá, em frente da lareira, ouve uns barulhos na chaminé. “Ainda não é natal. Só se. Veio mais cedo!” pensou sorridente.
Cacilda Serafim esticou a mão para dar um bom açoite no traseiro do Duarte, mas foi impedida, por Fernando que tinha um chapéu de natal e disse:
- O Pai Natal vem ai, está a descer pela chaminé!
- Mas ainda não é natal! – diz Cacilda.
- Se calhar este ano é mais cedo! – diz Serafim animado.
Fazem uma rodinha á volta da lareira. Mas quem caiu foi a Filipa, o Bruno, o Ivan, a Mariana e a Disfarçada caem todos juntos:
- Ohhh – dizem todos os que anseiavam o gordo de vermelho.
Cacilda olha para Duarte outra vez, estica a mão de novo para lhe dar um açoite, mas desta vez é impedida pela a bisavó do Duarte, que chegou na hora H, para salvar o seu querido bisneto, avó velhota”, como era chamada, que agarrou na sua bengala e...
E deu com a dita cuja na tola do Duarte, porque o “Dudu”, como estava meio abananado, pensou que era a sua velhota, mas afinal era a Juju Sahêmé que estava irritada por não ter sido convidada, e, como é obvio, levou-nos todos para um enforcamento.
Mas antes de nos levar ao enforcamento, ele apareceu para nos salvar, Chico Godinho, o Ranger do Texas, e avô do Duarte, que, com o seu poderoso chicote acertou na pata da Juju. Sorriu, pensando que tinha dominado a fera. Apagou o seu cigarro na própria mão, armado em valentão, e queimou-se, claro. A Juju, com a mão vermelha, sacou da pistola e deu-lhe um tiro. Chico “Fangio”, como lhe chamavam os amigos, porque uma vez enganou-se a dizer fingiu, caiu, e levantou-se, caiu outra vez, e morreu. Partiram então para a cerimónia do enforcamento, que era no sotão da casa.
Já na cerimónia, Chico, inédito, salta do caixão e solta uma frase: Ahahah, eu vou, mas volto! (sempre com a língua de fora). Duarte caí, impávido, e sereno, Cacilda Serafim ria, e ao mesmo tempo fazia uma ganza para todos comemorarmos, enquanto que a velhota do Duarte fazia cheesecake, para papar-mos!
Mas esqueciam-se de um detalhe, eles iam ser enforcados, e lembraram-se disso quando a Juju surgiu, com uma corda e disse: PONHAM-SE TODOS EM LINHA!
Eles, que remédio, obedeceram. A velhota do Duarte, que entertanto tinha aparecido, como a Nossa Senhora do Aparecimento, sentiu-se mal, devido aos cheesecakes, que fez supostamente para todos, mas não resistiu e gulosa, enfardou tudo, e pediu à Juju uma pausa para ir à casa de banho, e a Juju, apesar de maléfica, compreendeu e concedeu a pausa. E a comemoração prosseguiu...com a Juju a pedir um pouco de ganza a Cacilda, que fumou toda só para não partilhar.
Juju mocada com nada, porque a ganza foi-lhe recusada, com os olhos idênticos aos da Disfarçada Oscilação perguntou: Wi, dondé os casa de banho? Tenho di iri fazeri chichi! Saca da navalha e...parte uma fatia de cheesecake.
Sim, que o Duarte, conhecendo a sua velhota, escondeu um pouco de cheesecake, antes do mesmo desaparecer, e a Juju, mocada, conseguiu descobrir onde estava aquela sobremesa, e, gulosa, esqueçeu a vontade de ir ao WC e comeu-o tudo. Porque depois da primeira fatia vem as outras. Duarte, irritado, agarra no copo que tinha mais ao pé e atira à cara da Juju, mas no momento em que o copo arrebentou, juntamente com a cara da Juju, lembrou-se que pertencia à sua bisavó, e que por acaso era o seu preferido.
A “Avó velhota”, assim que ouviu o estrondo do copo feito de puro cristal, oferecido pelo Zuper Coelhe, sua paixão de infância, veio a correr do WC, com o cagalhão à porta, e perguntou quem foi. Duarte, esperto e ciente das consequências, culpou a Juju.
Momentos de tensão. A “avó velhota” estava louca de fúria. E quando parecia que a situação não podia piorar, Cacilda Serafim entupiu a sanita.
Mas a “velhota” conhecia muito bem o Duarte e chamou-o, muita falsa, para lhe dar uns miminhos, mas era mentira, ele aproximou-se, e PIMBA, levou um estalo. A Juju riu-se. Mas a “avó velhota” não gostava nada dela, por isso puxou da espada.
Lançou um mau olhado à Juju. Tirou o lenço preto da cabeça e descalçou os sapatos, para calçar as chinelas. Duarte percebeu tudo e foi buscar as pipocas. Ia haver porrada. Cacilda, que também percebeu a situação, porque fazia tricó com a velhota do Duarte, afastou as mesas e móveis para dar espaço ao duelo. Os outros puxaram das cadeiras e sentaram-se para observar aquele tremendo espectáculo. A Juju saca também de uma espada:
- Á CARGA! – grita a “avó velhota” que se auto-dispara em direcção da Juju. A Juju dá meia volta, largando a espada e dá de fuga. A bisavó do Duarte, irritada, persegue a Juju pela casa toda, andando lá as voltas, até que, a campainha toca outra vez. Fernando vai lá:
- Boa noite, o meu nome é Claúdio Pinheiro. – diz um homem minimeu, de nariz de batata, com uns óculos maiores que a sua cara, de boné na tola.
- Perguntei-lhe o nome? Não! – diz Fernando – o que quer?
- Vim entregar a pizza.
- Ninguém encomendou pizza...deve ser engano – diz Fernando.
- Não é engano nenhum! ISTO É UM ASSALTO! – diz sacando da pistola.
- Será... – diz Fernando olhando em volta, desprezando a afirmação do ladrão.
- Será o quê? Dá-me todo o teu dinheiro! TOU-TE ASSALTAR MACACO!
- Nunca mais chega o sacana do frango...
- Podias dar-me atenção? Por favor? – implora o mendigo assaltante Claúdio.
- Não estamos interessados... – diz Fernando fechando a porta.
O ladrão que fingia vender pizza passou-se com o desprezo e suicidou-se.
A Juju e avó velhota tinham desaparecido. Ninguém sabia delas. Duarte vira-se para todos e pergunta:
- Então? O que acham de nos virarmos todos contra a Juju? Como nos velhos tempos!
- Não...vamos manter os velhos grupos...eu, a Juju e a Filipa, e vocês ficam com a Disfarçada. – diz Serafim
- Mas porque é que não te queres juntar a nós? – pergunta Duarte.
- Porque és um bokó! – diz Serafim.
- Ai sou bokó? ENTÃO SAI DA MINHA PROPRIADADE SEU CAMELO! CORRUPTO! VENDIDO! VENDES-TE À JUJU! DESAPARECE! ESTÁS EXCOMUNGADO!
- O Serafim não vai a lado nenhum – diz Juju, que aparece toda esmurrada, escaranfuchada, a sangrar.
- A minha bisavó? – pergunta Duarte.
- Está aqui! – diz Juju erguendo a cabeça da “avó velhota”, separada do corpo.
- AI QUE HORROR! – diz Duarte.
Cacilda Serafim veste-se de preto, e chora, pela cabeça da “avó velhota”.
- Assassina... – diz Duarte.
- Pois sou e com muito gosto!
- Então e...também vamos morrer? – pergunta Ivan.
- Em relação a isso, tenho boas notícias. Apesar de não me terem convidado, vou-vos perdoar, e não vos vou enforcar...
- YEAH! – dizem todos, lançando chapéus e foguetes para o ar.
- Vou vos fuzilar! – termina maléfica – só não vos enforco porque não sei fazer o nó, e vocês, desagradáveis como são, não me ajudariam.
- Isso é verdade – diz a Rita a fingir que é a Disfarçada.
- Juju, pensa bem, tu não nos queres matar, queres é o tesouro! – apela Filipa.
- Relaxa Filipa, tu fazes parte do meu bando, assim como o Serafim...estão impunes...
- Ah...então podes matá-los à vontade. – diz Filipa.
- Bom, Serafim, Filipa, desapareçam...vão para a cidade que eu já lá vou ter...Bruno, sê bem-vindo de volta. – diz Juju.
- Ahn? O que queres dizer? – pergunta Bruno.
- Filipa, Serafim, ele vai connosco! Levem-no! – diz Juju autoritária.
- Sempre a trocar de grupo... – diz Bruno.
Bruno, Filipa e o Serafim dão de frosques. Permanecem na casa Mariana, Ivan, Duarte, Disfarçada, Fernando e Cacilda Serafim:
- Tenho sono, vou dormir – diz Fernando – às 11 horas quero tudo na cama! – termina autoritário.
- Eu vou quando acabar a minha novela – diz Cacilda.
- Ó pai, deixa ficar mais tempo... – implora Duarte.
- Está bem, às 10 horas! – diz Fernando.
- Ok...que porcaria – termina Duarte baixinho.
- Bom encostem-se à parede! – diz Juju sacando da bazuka.
- Juju, não seria melhor lá fora? Depois dás cabo da parede, e o meu pai passa-se e mata-te! – diz Duarte.
- Ele que venha! Ele e mais quinhentos! Agora depressa que eu quero ir-me embora!
- Então vai! – diz Duarte.
- CALA-TE! ESTÁS A METER-ME NOJO! – berra a Juju perdendo um parafuso.
- Caiu-te um parafuso... – diz Mariana.
- CALEM-SE! EU VOU-VOS MATAR! - grita Juju perdendo outro.
- Não grites, que eu quero ver a novela! – grita Cacilda.
- CALE-SE VOCÊ TAMBÉM! – grita Juju.
Cacilda não admite tal abuso e atira-lhe com um candeeiro na cabeça:
- Tão mal-educada, não admira que não tenha amigos – diz Cacilda.
- Cabeça dura – diz Duarte gozão – ainda está em pé, que maravilha.
Juju, embora meio abananada, mantém-se firme:
- Últimas palavras? – pergunta Juju – Pensando bem...não quero saber...adios! – termina Juju, que, lentamente, dirige o seu dedo indicador ao gatilho da bazuka. Estás prestes a disparar. Mas de repente, quando todos transpiravam de medo, o castelo do Duarte explode.
O que aconteceu? Bom, acontece que Fernando estava a fritar batatas, mas foi atender o telefone e sem querer, atirou um pano para cima do lume. O pano ardeu, de seguida ardeu a cozinha, e por acaso, algum espertinho pôs dinamite ali ao pé e voilá, auf wiedersen castelo do Duarte.


Juju abre a porta de sua casa. Ivan está encostado, com um ramo de flores na mão, de camisinha:
- Olá – diz Ivan sedutor.
- Xuxu – diz Juju que agarra no Ivan e espeta-lhe um beijo na boca.
Ivan Embaló. Num dia em que se encontrava meio drogado, meio louco, ajoelhou-se, sacou de um anel que roubou, e disse, em alto e bom som:
- Juju, queres casar comigo?
A moça aceitou. E agora os dois vão casar.
Ninguém sabe o que deu ao Ivan. Talvez foi obra do destino.

Igreja da Santa Custódia Pesadela
Milhares de pessoas vieram assistir ao casamento da Juju. É épico. A pessoa mais horrível à face da terra vai casar. Edgar Gregório, o falecido, estava ali, bem vivo e de saúde, abanar as banhas, enquanto Duarte tocava música de casamento. Era ele que ia presidir a cerimónia. Mariana, explorando as suas capacidades teatrais, chorava e chorava. Filipa atirava flores, enquanto pulava, toda feliz e contente:
- Meus queridos irmãos – disse o Gregório com a sua voz mais fina que sei lá o quê – estamos aqui reunidos para celebrar a milagrosa união entre Juju Sahêmé e Ivan Embaló, mas, antes de prosseguir, tenho de perguntar, existe alguém que se oponha contra esta sagrada união?
Juju olha para Serafim. Ivan percebe que algo está mau. Juju pensava “diz que te opões, diz, eu fiz-te ciúmes, diz que te opões e casa comigo”, enquanto olhava para Serafim. Sim, é verdade, a Juju usou o Ivan, hipnotizou-o, para fazer ciúmes a Serafim Saudade. Resultou? A ver vamos:
- Alguém? – insiste Gregório.
- Eu...- diz Serafim levantando-se – não só como não me oponho como felicito.
- E então, pelo o poder em mim investido, eu vos declaro...
- O QUÊ? – grita Juju perdendo as estribeiras. – TIVE EU ESTE TRABALHO PARA NADA? EU NÃO QUERO CASAR COM O IVAN! QUERO CASAR COM O MEU XUXU! XUXU! ANDA CÁ XUXU!
Serafim foge da igreja. Juju vai atrás dele. Ivan, desgostoso, desmaia.
Acorda.
Oeste Americano, Utah, 1953, 4 de Agosto
Ivan acordou no meio do nada, em frente de uma lareira. É pura noite. Tinha tido um pesadelo. Vê, ferrados a dormir, Duarte e Cacilda Serafim, enquanto Mariana permanecia acordada, armada até aos dentes, a vigiar:
- Mariana? – pergunta.
- Ivan, acordas-te, estava difícil...
- Há quanto tempo estive a dormir?
- Estives-te em coma desde de novembro do ano passado, sê bem vindo a 1953! Estamos em Agosto.
- O que é que aconteceu? – pergunta Ivan confuso.
- Quando a explosão ocorreu, foste o único que levou com um bocado do telhado em cima. Nós safamos-nos nem sabemos como.
- E a Juju?
- A sacana sobreviveu, depois da explosão, ela fugiu com o seu bando, e desde de então estamos atrás dela, graças à Filipa, que lança migalhas a toda a hora...
- Hum...a Rita?
- Foi apanhar lenha, com a “velhota”... – diz Mariana cerrando os dentes... – e diz Disfarçada, nunca se sabe quem está à escuta...
- Desculpa...a bisavó do Duarte está viva?
- Sim...ninguém conseguiu acreditar quando ela apareceu, mas afinal a cabeça que a Juju mostrou era falsa...a Vinita, que é o seu verdadeiro nome, cansou-se de a perseguir e foi tomar banho.
- Ah...
- Pois...
No dia seguinte, fazem-se à estrada, e perseguem a pista deixada pela Filipa. Cacilda Serafim tinha embarcado na viagem em busca de aventura, e a Vinita veio com ela para lhe fazer companhia. A Falsa Disfarçada ( a Rita), foi contra a introdução destas duas membros no grupo, dizendo que elas as iam atrasar. Mas estava enganada. Não só não atrasavam como eram mais rápidas. E mais, cozinhavam bem e em grandes quantidades. Foi uma maravilha.
A Filipa, polvo de serviço do bando da Disfarçada, infiltrada no bando da Juju, arranjava maneiras de atrasar o grupo, para a Disfarçada Rita e os outros apanhassem-os. Desde de pedras nos sapatos até urtigas na bebida, a Filipa alcançou os efeitos desejados. E a Juju, cega pelo o ouro, nem se apercebeu que estava a ser perseguida, e quando deu por si, estava rodeada pelo bando da Disfarçada.
Bruno, que tinha ido com a Juju, a Filipa e o Serafim, tinha uma metralhadora na mão. Serafim, um gelado enorme, porque estava calor. Filipa, uma pistola de madeira, para os intimidar, e a Juju, uma navalha. Não tinham hipóteses. O Bando da Disfarçada estava melhor equipado e armado. Á Direita, estava Duarte, em cima de um cavalo que apelidou de Serafim, com um revólver na mão. Á esquerda, Mariana, em cima do seu camelo, armada até aos dentes. No centro, a Disfarçada, sem nada porque não tinha pontaria. A sudoeste, Cacilda Serafim, com uma régua de madeira na mão, e noroeste, Vinita, a “avó velhota”, com um chinelo na mão.
- Juju...- diz a Disfarçada – poupa o massacre do teu grupo e sobe para o cavalo para nos levares ao tesouro.
- Está bem... – diz Juju, depois de uma curta hesitação - ...Rita.
Ficaram todos espantados com aquela afirmação.
- O que queres dizer com Rita? O meu nome é Disfarçada – diz a Disfarçada.
- Tão tola...julgas mesmo que sou burra...eu sei que não é a Disfarçada por detrás dessas vestes...a Disfarçada não usa pala no olho, a Disfarçada não tem sardas, e tu tens, vejo daqui duas...devias tapar melhor...por isso sim, tu és a Rita Não Marques. – diz Juju, armando-se em detective.
- ALELUIA! Obrigado Juju... – diz Duarte saindo do cavalo e fazendo uma vénia.
- De nada...acho...
- Podes descer Rita. – diz Duarte, apontando-lhe o dedo.
Rita desce nervosa, pois sabe o que lhe espera.
- Não queres pensar sobre isto? – pergunta a tremer.
Duarte olha para a Filipa, que lhe acena afirmativamente:
- Não...já foste...retira as vestes...
Rita retira a fardamenta da disfarçada, mas atenção, tinha roupa por baixo:
- ULTIMAS PALAVRAS? – pergunta Duarte animado.
- NÃO ME MATES! – grita Rita desesperada.
Duarte saca da pistola:
- NÃO A MATES! – grita o Ivan.
- Tem calma Duarte – diz o Bruno.
- METE A CALMA PELA A GOELA ABAIXO, EU VOU MATA-LA, MORREEEEE! – grita Duarte sorrindo e eufórico, premindo o gatilho.
A Rita morre, Duarte vira-se para o bando da Disfarçada e diz:
- Aplausos se faz favor, foi um tiro perfeito.
Aplaudem Ivan, Mariana. Cacilda joga às escondidas com Vinita, e estavam totalmente à parte da situação.
- Porque a matas-te? – pergunta a Juju.
- Ordens da disfarçada! Agora saiam dos cavalos, ajoelhem-se, e digam o que eu quero ouvir... – diz armado em superior, e colocando uma capa.
- Avé Duarte, nosso novo líder!
- Obrigado, obrigado...e, como primeiro acto, dêem o corpo da Rita aos coiotes... – diz Duarte maléfico... – então...Juju...para onde vamos agora?
- Bom...o tesouro fica ali...vamos, eu guio-vos...vou à frente... – diz Juju, depois de apontar para ali ao pé.
- É perto? – pergunta Mariana.
- Sim...
- Então vá, quanto mais rápido lá chegarmos melhor – diz Duarte. - ANDIAMO! ACELEREM!
Metem-se todos nos cavalos, e vão a galopar alegremente e ferozmente, como se fosse uma corrida. Chegam ao destino, e ficam frente a frente com um velho templo em ruínas:
- FINALMENTE! – diz a Juju pulando do cavalo... – o templo do Deus Saudade! - esboça um sorriso de alegria – Aqui foram enterrados alguns dos mais podero...
- Sim, sim, mostra-nos mas é o tesouro – diz a Mariana, mostrando a sua face de mercenária, com uma faca no meio dos dentes, estragando o momento de entusiasmo da Juju.
Entram dentro do Templo. As paredes estão recheadas de desenhos e escritos antigos. Acendem os archotes, pois está escuro:
- Olha Ivan – diz Serafim ajoelhando-se – escrita portuguesa, aqui, em Utah, num templo com mais de 9000 anos... – diz Serafim muito interessado... – MEU DEUS! Aqui está escrita toda a história da Atlântida...
- Espectáculo – diz Ivan feliz observando os desenhos – isto é história e arte, olha aqui Duarte – aponta para os desenhos.
- Podia estar melhor – diz Duarte reprovador – vá Juju, leva-nos ao tesouro...
Juju avança na direcção de uma porta, que está cheia de pó e areia, e assopra, para ler o que lá está escrito...
- Tu que ganancioso aqui vieste, volta para trás! – diz Juju – é o que aqui diz...
- O que significa? – pergunta Duarte– será alguma rasteira?
- Não...basicamente diz não abras a porta... – diz Juju.
- Está bem, isso não interessa para nada, vá abre a porta, andor, quero o OURO, ESTÁS OUVIR? QUERO O OURO – termina a gritar Mariana, que se provou mais gananciosa que a ganancia.
Filipa tenta controlar-se, pois apesar de ter dito que não lhe interessava o ouro...era isso que ela queria, desde de pequena...desde de que se tornou na disfarçada.
- Está bem vossa alteza, não a sabia de tais ganancias – diz Juju, colocando a chave na porta.
Cacilda e Vinita tinham ficado lá fora, a fazer camisas de manga curta, pois é verão e querem ganhar umas coroas.
A porta abre-se, a Juju suspira e vai para entrar, mas é empurrada pela a gananciosa da Mariana, que entra toda feliz e excitada:
- Credo...é mesmo gula essa Mariana, VAIS TER DE DIVIDIR Ó PARVALHONA! – grita Serafim.
Entram todos lá dentro:
- Bom...é aqui, a sala do tesouro – diz Juju.
Era uma sala minúscula, com ouro, mas muito pouco, e com móveis velhos e partidos:
- O quê? É isto o teu tesouro? Estas velharias? Estas ninharias? – pergunta Serafim à Juju.
Juju não responde.
- Eu não acredito, EU NÃO ACREDITO! VIM EU DO CU DE JUDAS PARA ISTO? DEVIA-TE MATAR AQUI E AGORA! – grita Mariana na direcção da Juju, com a caçadeira na mão.
- CALMA! Relax...a Juju tem certamente uma explicação para isto, não tens Juju? – pergunta Duarte.
- Deve ter sido saqueado, isto estava cheio, é verdade, estava abarrotar, foi dificil por tudo cá dentro... – diz Juju desculpando-se.
- Eu sabia, eu sabia que nos ias enganar... – diz Ivan – não existe tesouro, é tudo mentira! Só existe este ouro – diz Ivan agarrando umas moedas – e ainda por cima falso.
- MENTIS-TE-NOS! – grita Mariana.
- Não...é verdade que o tesouro existe – diz Juju agarrando numa caixa que lá estava – só que não está aqui...
- O quê? – pergunta Duarte - trouxesses-te nos ao lugar errado?
- Eu vim aqui buscar uma chave...- diz a Juju – e planeava prender-vos a todos aqui, fugindo eu, mais o meu bando, a Filipa, o Serafim e o Bruno ...os outros, olha, azar...
- Pois, acho que vamos te enforcar – diz Mariana.
- Também me cheira... – diz Duarte.
- MATEM-NA! – grita Ivan
Os três avançam na sua direcção quando ela puxa uma alavanca e diz:
- Acho que não...
Um monte de fumo espalha-se pela sala, a Juju desaparece, com a caixa, com a Filipa, Bruno e Serafim, trancando a porta, pois conhecia aquilo como a palma do pé. O fumo desaparece:
- ABRE A PORTA! – grita Duarte tentando arrebentar com a mesma. - Mariana, tens dinamite?
- Não...
- Estamos tramados não estamos? – pergunta Ivan.
- Estamos – diz Mariana.
- Não estamos nada, vamos arranjar maneira de sair daqui...
Mas era mentira, já não iriam conseguir, pois algo aconteceu:
- QUE NOJO! – grita Mariana apontando para a tola do Ivan.
- CALA-TE! – diz Duarte – Ivan, tem calma, não te mexas.
Ivan tinha um escaravelho em cima da cabeça:
- O que se passa? O QUE SE PASSA? O QUE SE PASSA?
- Tens um escaravelho na cabeça, eu vou mata-lo, mas tens de manter a calma...
- Está bem. – diz Ivan nervoso.
Duarte saca lentamente da pistola, e aponta para o escaravelho, mas de repente ouve o escaravelho a guinchar, e outros tantos aparecem:
- Meu Deus... – diz Mariana.
- Vamos todos morrer... – diz Duarte apontando a pistola à sua cabeça.
De repente o Ivan começa aos gritos, pois estava a ser devorado por escaravelhos. Duarte suicida-se e Mariana arranca o pelo da vida, morrendo.
Cacilda e Vinita, que estavam lá fora, vêem o bando da Juju a fugir a uma velocidade tremenda. Vendo que aventura estava escassa, deram meia volta e foram-se embora.
Mas, lá dentro, no templo, Duarte acorda, olha em volta, tinha sido tudo um sonho, o fumo que empestou o ar, era para por as pessoas a dormir. Sentia-se diferente, mais leve, mais novo. Os outros acordaram, a Mariana e o Ivan, sentindo-se também diferentes. Ivan conseguia tocar com o pé no nariz, e Mariana andava aos saltos, pela sala, toda feliz, largando flores.
O fumo mudou completamente a maneira de pensar daqueles jovens, que se foram embora do templo, esquecendo completamente que andavam atrás de um tesouro, espalhando uma mensagem de amor e liberdade.

Oceano Atlântico, 1953, dia 1 de Janeiro
Passaram alguns anos. Juju, decidida em enriquecer, meteu-se num avião, com o Bruno, a Filipa e o Serafim, para ir à Madeira, onde era a antiga Atlântida, mas, por obra do destino, o avião deles caiu, de falta de gasolina, e morreram todos, ficando a dormir eternamente, debaixo do mar.
Pensavam eles...
Filipa abre o olho. Está debaixo do mar. Olha em volta. Vê uns peixes feios a nadar à sua volta. Vê o avião, mesmo ao lado do falecido Titanic. Vai a nadar para o aeroplano, destruído, todo amarrotado. Aproxima-se de uma das 3 mil janelas do avião, e vê o seu reflexo. Era um cavalo marinho. Neste caso uma égua marinha. Perante estas circunstâncias, dá um grito de horror. Como é que isto aconteceu? Perguntava ela a si própria. De repente, enquanto Filipa estava sob depressão aguada, aparece Juju, sob a forma de polvo, portadora da resposta à pergunta, acompanhada por Serafim, peixe balão que tinha o Bruno, uma raia, amarrado, como um cão :
- JUJU? – pergunta Filipa eufórica.
- Sim...sou eu... – diz Juju.
- Então e nós? Não existimos? – pergunta Bruno a Serafim.
- Faz como eu, quando ela te perguntar alguma coisa, ignora, ou diz algo estúpido... – diz Serafim sábio.
- Ok...
- O que é que nos aconteceu? – pergunta Filipa.
- Minha cara, lembras-te daquela coca-cola que te ofereci?
- Sim... a que mais parecia veneno...
- Era veneno...
- O QUÊ? – grita Filipa, baixando de seguida o tom – mas, isso não faz sentido, porquê é que estou viva então?
- Porque aquele veneno pouco gostoso não matava...mudava...
- Ah?
- Sim...foi aquele veneno, que nos transformou, em seres marinhos...
- O QUÊ? ESTÁS A BRINCAR COMIGO Ó QUÊ CA...
- Como achavas que íamos entrar numa cidade que está debaixo do mar? A voar?
- Sei lá...com fato de mergulho...
- Foi considerado, mas era caro...e isto sai mais barato...bom, agora vamos, temos apenas mais meia hora, antes que o efeito acabe.
- E se acabar? – pergunta Filipa.
- Morremos afogados... – diz Juju muito séria.
Momento de silêncio. Até que Filipa, apercebe-se de que o Bruno e o Serafim ali estavam, desprezados, ignorados, à parte:
- Então amigos? – pergunta ela, toda falsa – porque estão tão longe?
- Porque não estamos tão perto. – diz Bruno, lembrando-se da palavra de Serafim.
Serafim pisca-lhe o olho. Fazem-se ao caminho. Juju, explica ao grupo a importância de Bruno, que só ele, abria a porta, da Atlântida, e que não lhe cortava a mão por pena, e avisou, armada em sábia e conhecedora dos caminhos para a Atlântida, sobre as correntes marítimas, que podem puxar e levar-nos para longe.
De repente, ia Juju cantando alegremente, quando é puxada pela corrente:
- SOCORRO! – gritou desesperada.
- Que horror! – disse Filipa usando capacidades teatrais aprendidas com Mariana – Vou-te salvar!
- SALVA A JUJU! – grita Serafim desesperado – ELA É QUE SABE ONDE ESTÁ O TESOURO.
Filipa, macaca, simula o salvamento da Juju, apenas fingindo, deixando-a ser levada pelas correntes, esperando que ela morresse...para ficar com o tesouro só para si.
Juju desaparece na vastidão do oceano. Serafim, homem beato e de grandes virtudes, tira o chapéu imaginário, e diz algo bonito sobre a Juju, muito triste, muito em baixo:
- Juju, foste a mulher mais...com mais...foste a pessoa mais...vamos sentir a tua falta. Amén. – termina em lágrimas.
- Ámen – diz a Filipa falsa e o Bruno indiferente.
- Bom, mas a vida é assim mesmo! – diz Serafim – Vamos, temos um tesouro para apanhar.
O Tempo está apertado. Passaram por um monstro marinho que guardava a Atlântida, mas a ganância era tanta que mataram-no logo. Cheguem à porta. Estão ainda debaixo de água. Bruno mete a mão na porta e a dita abre-se e voilá, eles entram e a porta fecha-se outra vez. Já são pessoas de novo. A meia hora concedida acabou mesmo em cheio. Estavam numa sala seca. Uma sombra faz ecoar uns barulhos, barulhos de meditação. Aprochegam-se da dita cuja. Bruno diz:
- Dejá vu.
- Já visto...já aqui estiveste – diz Filipa – lembras-te?
Bruno fica pálido. A sua enorme penca parece diminuir. Parece apenas, continua do mesmo tamanho. E recorda-se. Recorda-se da história do Cristal, do tesouro, da Atlântida:
- JÁ ME LEMBRO! – grita bem alto, levando um pontapé de seguida.
- EI! – diz Filipa puxando da pistola.
Serafim, a quem esta situação não dizia nada, sentou-se no chão e pôs-se a ler os escritos antigos nas paredes.
- Tu... – afirma uma voz grossa como se conhecesse a Filipa, que possuía sobre o seu corpo uma fardamenta de ninja. Foi este ser, que colocou o Bruno no estado inconsciente – não sei quem és...
- O meu nome é Filipa Oscilação...e venho em paz – diz tentando ser diplomática, guardando a bisnaga.
- Aldrabona...- diz o ser, tirando a mascara – o meu nome é T...Cobra Venenosa, sou a guardiã do Cristal, e vocês não são bem vindos, eu sei o que procuram, mas não o encontrarão aqui.
Era uma pessoa estrábica, de cara deslavada, dente de ouro e tinha barba. Tinha calçado um sapato azul de porcelana no pé esquerdo. O direito estava nu.
- Guardiã...nós viemos em paz, não queremos fazer mal... – diz Bruno erguendo-se, recuperado do sono.
A Cobra olha para ele. Ele mascava pastilha. Ruminante, pensou ela. Ele olhou para ela. O olhar da cobra era frio, ruim. O Bruno metia-lhe nojo. O seu mastigar, efectuado de boca aberta, para mostrar a saliva. A barba por fazer do Serafim. Os olhos fechados da Filipa. A cara de gozão do Bruno. A Cobra irritou-se e não foi de modas. Matou-o.
Bruno sorriu, era a morte, que ele tanto procurava:
- NÃO! – diz Filipa horrorizada com o falecimento do Bruno.
- Para quê tanto drama? – pergunta a Cobra muito calma – já não precisavas dele.
- Também é verdade – diz Filipa.
- Chega de paleio – diz Serafim levantando-se – diz-me onde está o tesouro!
- Não está aqui... – diz Cobra – foram, decerto, enganados pela Juju.
- Como sabes da Juju? – pergunta Filipa chocada.
- Eu sei tudo... – diz a Cobra sábia – não é querer-me gabar...
- Prova-o! – diz Serafim desafiador.
- O que queres saber? – pergunta a Cobra.
- Quem é...a Disfarçada? – pergunta como se fosse um choque.
Filipa implora à Cobra para não fazer tamanha revelação. A Cobra concede dizendo:
- A Disfarçada não está nesta sala. A Disfarçada não é a Filipa Oscilação...mas sim...a...
- Juju! – diz Serafim interrompendo – como não me apercebi...era tão óbvio.
A Cobra cala-se.
- Bom...e agora...a Juju morreu...nós não temos tesouro...o que fazemos? – pergunta a Filipa que é a verdadeira Disfarçada.
- Questionamos a nossa mente – diz Serafim
- Questiona tu que eu jogo às cartas com a Cobra...que me dizes? Peixinho? – pergunta a Filipa à Cobra.
- Canastra... – diz a Cobra sorrindo, mostrando os dentes imundos e o dente de ouro.
Serafim entra no seu cérebro. Abre gavetas em busca de uma questão interessante para colocar à sábia Cobra.
A Filipa faz batota. A Cobra sabe-o mas está bem disposta e tolera. O relógio faz tic-tac, apesar de não existir nenhum relógio na sala:
- EUREKA! – grita Serafim – Tenho uma pergunta para ti Cobra...
- Dispara...
- Porque é que nós, andamos de trás para frente, estamos ali depois já não, somos maus depois bons? Essa...é a minha questão. Quer dizer, eu nasci em 1993, e estou aqui, em 1952.
A Cobra ergue os braços e diz:
- A morte chegou aos vivos.
- Ah?
- Tu, juntamente com os “nós”, que são os anti-Juju, estão mortos...morreram, há muito tempo atrás, assassinados pela Juju...sim, foi triste, isto, onde vocês estão, é o purgatório.
- O quê? Isso não faz sentido nenhum! – diz Serafim.
- Ai não?...então pensa...quantas vezes morres-te e depois apareces-te outra vez? Vivo e de saúde?
- Eu...
- Quantas vezes foste outra pessoa? Quantas vezes matas-te alguém e esse alguém apareceu de novo?
- eu...
- Tu e tu...ouve bem Serafim, tu estás morto, e tu também Filipa, e isto, é o purgatório, e eu estou aqui para avaliar a vossa entrada no céu. Não...é mentira, o purgatório foi comprado pelo o Inferno, porque o dito estava cheio, e agora isto é o Inferno e eu sou o Diabo!
- MAMA MIA! – diz Serafim assustado.
A Cobra desmancha-se a rir. Era mentira:
- Acreditas-te mesmo em mim...que tolo...agora a sério, vou revelar...vocês...
A Cobra cai no chão. Adormeceu porque a Juju espetou-lhe um dardo na carola. Ela estava viva e molhada:
- JUJU! – dizem eufóricos – Estás bem!
- Seus falsos! Abandonaram-me. – diz deslocando uma pedra daquela sala, tirando de lá um mapa.
- Nós? Falsos? Tu é que nos enganas-te... – diz a Filipa
- Sim é verdade, e vou-vos deixar aqui, à mercê do destino, enquanto vou ao verdadeiro local do tesouro enriquecer. Eu enganei-vos, usei-vos, sim sou cruel, mas faço isto pelo papel!
- Maléfica, eu confiei em ti! – diz Serafim triste.
- Foste burro, mas se quiseres podes vir comigo xux...digo Serafim.
- Sim, claro, depois disto tudo vou mesmo contigo...
- Então não venhas, mete uma rolha, au revoir mes compines! Morram que eu vivo!
Juju que apareceu do nada, desapareceu sem darem conta. Nem sabem como. Mas também, ela conhecia aquilo bem, e fugiu, deixando-os presos com a Cobra, que acabou por não revelar nada, porque o dardo retirou-lhes os poderes da sabedoria.

Cá-a a Boca 36 - A Gran Cruzada da Juju


Depois dos acontecimentos de “Tudo pelo o que é da Juju”

Bruno é vidente charlatão, Filipa é jornalista, Duarte é maestro, Serafim é caçador de relíquias, Mariana é perneta e Ivan é pintor estrábico.

Atlântida, 9600 a.C. dia 37 de Tresta, calendário Atlante
“E num único dia, e numa única noite, a ilha da Atlântida foi dar mergulho para debaixo do mar, de onde nunca iria voltar...” – Filósofo Serafim, 1974, in “A Minha Perfeição”.
Atlântida, a cidade mais avançada do mundo.
Telemóveis, computadores, televisões 3D, sistema de água canalizada. Isso tudo e muito mais, em Atlântida, a cidade Maravilha.
Milhares de pessoas são barradas todos os dias nos portões da cidade. São pessoas, que vieram de longe, à procura do Sonho Atlante.
Filósofos tolos e antigos, dizem, que a Atlântida foi fundada por seres vindos do céu, os extraterrestres. Mas é mentira. É certo que vieram à terra, mas não para fundar uma cidade, onde não fossem morar, vieram em busca de poder, mais concretamente, em busca de algo precioso, algo raro, que só existe na Terra, vieram atrás do Cristal Atlante, de forças naturais mais poderosas que qualquer outra coisa no Universo. Quando cá chegaram, encontraram a gente, os Humanos, e a Atlântida, já existente, já avançada. Por isso, como plano de última hora, inventaram uma desculpa esfarrapada, mostrando bandeira branca, um cachimbo da paz, e gritando peace and love, para depois, quando nós, os Humanos, estivessemos distraídos, apunhalavam-nos nas costas e fugiam com o Cristal.
Os Atlantes não faziam a mínima ideia de que havia esse Cristal, mesmo debaixo dos seus pés, mas também não precisavam, pois já governavam metade do mundo. Mas, a meio do chá das 5, os “seres do céu”, descairam-se, e contar o seu plano, e foram expulsos ao pontapé pelo o Rei Gregório e os amigos.
O Rei Gregório, que era aconselhado pela Cobra Venenosa X, que era ajudada pela Joana Mateus, decidiu investigar os poderes do Cristal, e para isso chamou Duarte e Bruno, umas pessoas brilhantes, que em dez minutos, decifraram o Cristal, e disseram “Se usarem o Cristal e fizerem má pontaria, vão com o quality*!”, mas ninguém ouviu, e foi isso que aconteceu.
Mas antes, esconderam o Cristal e trancaram-no a sete chaves, no Salão do Cristal, que ficava na Gruta do Cristal, que ficava na Ilha escondida do Cristal.
E fingiram que nunca ouviram falar de tal coisa. Mas, existia uma pessoa muito gananciosa, que se chamava Joana Mateus, que se iria tornar Juju Sahêmé. Ela queria dinheiro, mas não conseguia roubar o tesouro da Atlântida, que era bastante grande. Por isso, matou o Rei Gregório, envenenando o seu prato favorito, bitoque de porco,no dia 34 de Tresta, e como o rei era todo santinho, não teve filhos, logo o poder passou para a sua conselheira, a Cobra Venenosa X. Mas quem é esta moça? Não interessa por agora. Mas a Joana teve que fazer puff com a Cobra, e foi o que fez, e no dia 36 de Tresta, a Cobra desapareceu. Foi uma pena, não, na realidade não foi, mas é bonito dizer que sim. E como essa era estranha, nunca casou, logo não teve filhos, logo, foi a Joana coroada, rainha da Atlântida. Resultado: no dia seguinte, a cidade foi consumida por um tsunami. Mas porquê? Nem estava nos plano da Joana Mateus governar, era só lá chegar, enfardar, e ir-se embora, com tanto dinheiro que até podia limpar o cu com ele. O povo odiava-a, mas ela não queria saber, ela é que mandava, e quem se portasse mal era: “CORTEM-LHE A CABEÇA!”.
Estava ela de volta do tesouro quando se lembrou do Cristal, e pensou “já que estou no poder, conquisto o mundo”, e ligou ao Bruno, para vir jantar com ela.
O Tolo foi, e ficou sem mão. Porquê? Porque só a mão do Bruno, abria as portas da Gruta e do Salão do Cristal, e só a sua mão ponha o Cristal a trabalhar.
Foi num veículo que voava, até à ilha, onde estava Duarte a proteger o Cristal, mas caiu nas falinhas mansas da Joana, e levou um soco, ficando KO.
Chegou ao Salão, e ligou o Cristal, e voilá, um poder imenso veio parar às suas mãos, “O mundo é meu”. E foi, durante 50 minutos. Mas enquanto se divertia a disparar com o Cristal nas pessoas, falhou, e acertou no mar, que rabugento, atacou a Atlântida.
Ela ainda foi a tempo de avisar as pessoas, que a onda vinha ai, mas pensaram que era uma brincadeira, pois dia 37 era o dia das mentiras, por isso riram-se e ignoraram-na. Menos o Bruno,a Filipa e outros do povo, a Mariana, a Rita e o Ivan, que deram de frosques.
A Joana, prevendo o fim da Atlântida, fugiu com o tesouro todo, e foi se embora, toda apressada e sorridente, deixando para trás, um grande Império, e o Duarte, que acordou tarde e a más horas, sendo desvastado, pela onda gigante de 600 metros, ficando debaixo de água, com a Atlântida.

Saloon de Chesterfiel City, dia 8 de Julho, 1951, 20:30
O Saloon já está todo arrumadito e limpinho. A Filipa, está no bar a servir bebidas às pessoas que, para perder peso, não jantaram e foram logo embebedar-se. Duarte toca alegremente piano, para os gatos pingados que estão naquela espelunca. Mariana tenta derrotar a batoteira que é a Disfarçada e o Bruno, observa babado as dançarinas:
- Bom...vamos fazer uma pausa! – diz Duarte às dançarinas, parando de tocar piano.
- Por quanto tempo? – perguntam.
- O que me apetecer...
- Duarte... – diz Bruno.
- Sim?
- Posso falar contigo?
- Dispara...
- Tens a certeza?
- Claro...
- Está bem...mas onde?
- É melhor lá fora – diz Duarte – e está apetecer-me um cigarro.
- Tens razão... – diz Bruno.
Chegam lá fora, Bruno saca da pistola e dispara para a perna do Duarte, mas ele tem uns reflexos tão bons, que se desviou, e a bala acertou na Mariana, que tinha ido lá fora apanhar ar, para depois vender.
- O QUE FOI ISSO? – grita o Duarte.
- Tu é que disses-te que eu podia disparar...
- Estava a dizer que podias falar...
- Ah...pois, tem lógica, eu também achei estranho mas enfim..
- Estás bem Mariana? Precisas de algo? – pergunta Duarte muito prestável.
- Não, está tudo bem... – diz Mariana aldrabona, que ficou perneta.
- Então o que queres? – pergunta Duarte a Bruno.
- Estou meio confuso pá...existem coisas que não estou a perceber...
- É normal...eu no ínicio também estava confuso...mas isso passa...
- Diz-me uma coisa...se a Filipa é a Disfarçada...como conseguem estar as duas ao mesmo tempo numa sala...como agora?
- Nessas alturas existe outra pessoa a envergar a fardamenta da Disfarçada, para deixar todos confusos...
- Quem?
- A Rita!
- O quê?
- Á pois...
- Então mas ela não morreu?
- Pensava eu...mas afinal fingiu que morreu, a mando da Disfarçada, eu dei-lhe um tiro é certo, e acertei em cheio no olho direito, e se reparares – diz Duarte apontando para dentro do Saloon, para a “Disfarçada” – ela tem uma pala no olho...
- Porque é a Rita...
- E quando não têm...
- É a Filipa...
- Estás esclarecido?
- Sim...não tinha reparado...
- Ninguém repara...
- Espera ai!
- O que é?
- Tu estavas morto...agora é que me lembrei...
- Não pah, eu nunca morri...a bala que furou a minha orelha, era uma bala de adormecer...eu também pensei que faleci...mas era mentira...fazia tudo parte do plano da Disfarçada...
- Ah...é que fizemos-te funeral...
- Fizeram bem...parte de mim preferia estar morto...
- Ai sim?
- Não... – Duarte ri-se.
A Mariana volta para ao Saloon. Depois volta lá para fora:
- Está na altura...
- Aleluia – diz Duarte, pondo o cigarro dentro do bolso.
Preparam-se para a longa viagem. Cada um vai para o seu sítio buscar as suas coisas e os seus cavalos, encontrando-se depois, um pouco mais tarde, nas bordas da cidade, para a Disfarçada fazer um discurso, aos três amigos, Mariana, Duarte e Bruno:
- Meus irmãos... – diz Disfarçada com fé, apesar de ser logo interrompida...
- Irmãos o caraças! – diz Duarte.
- Meus amigos?
- Não – diz Duarte mostrando desprezo
- Meus companheiros?
- Não...
- Meus colegas de trabalho?
- Não...
- Meus senhores?
- Sim...
- Vamos entrar numa nova etapa das nossas vidas, numa etapa em que somos milionários, graças ao tesouro da Juju! A Filipa, vai mais à frente, para servir de infiltrada, pois ninguém desconfia dela, e deixará migalhas no caminho, para nós perseguirmos com eficácia a Juju, estão prontos?
- Não... – diz Duarte...
- Então vamos...
Fazem-se à estrada. Filipa aparece de repente numa carroça, toda apressada, desaparecendo na escuridão, para executar o seu trabalho.

Algures no Oeste Americano, 1951, 9 de Julho
Juju está de joelhos. Tira o chapéu para limpar a cabeça, que está toda suada. Apanha um pouco de areia, e aproxima da boca...cheira...e vira-se para eles:
- Estamos no caminho certo...
- De repente pensei que fosses comer areia, até me assustei...- diz Serafim gozão.
- Nunca, é uma técnica usada por exploradores... – diz Juju muito séria.
- Eu sei...então e para onde vamos? – pergunta Serafim.
- Para Utah...
- Utah?
- Utah...
- Então e porque estamos parados? – pergunta Ivan.
- Porque não estamos a andar – diz Juju, tentado ser engraçada.
- Tu e as bocas secas – diz Ivan.
- Sim, não tens piada nenhuma – diz Serafim.
- É aborrecida – diz Ivan.
- Mais valia estar calada. – diz Serafim
Galopam um pouco. O cavalo do Serafim, por ser novo e inexperiente, cansa-se rápido, e Serafim troca de posição com ele, de repente, chegam a um sítio qualquer, pois não faziam a mínima ideia de onde estavam, e ouvem uns gritos:
- SOCORRO! TIREM-ME DAQUI! – gritos gritados pela Filipa, muito falsa, amarrada a uma pedra, com abutres à sua volta. – SOCORRO, SALVEM ESTA DONZELA INDEFESA!
- Filipa? – pergunta Serafim – Como vieste parar aqui?
- Tira-me daqui, por favor, não aguento mais... – diz Filipa, com uma grande interpretação...
- Só te tiro daí se me disseres porquê?
- Porquê o quê?
- Porque estás ai presa?
- PORQUE ME AMARRARAM, TIRA-ME DAQUI!
- Tira lá Serafim – diz Juju, farta de ouvir gritar a Filipa.
- Está bem...
Serafim solta a Filipa, que vai a correr para a carroça, que estava ali ao pé, e tira uma caçadeira, matando os abutres que estiveram a sua volta:
- Grande pontaria...- diz Ivan
- Obrigada, devias de ver quando acerto-lhes de olhos fechados – diz Filipa, muito convencida.
- Então? Como vieste aqui parar? – pergunta o Serafim.
- Decidi tornar-me jornalista, e vim para uma cidade aqui perto, com o meu próprio Jornal, mas o povo não gostou, e aqui me amarrou! Por falar nisso, tenho que escrever aos meus leitores.
Filipa vai à carroça, onde estava a sua máquina de imprimir antiga, e imprime três exemplares do seu Jornal “A Falsa”, e entrega ao grupo que encontrou...
- És rápida! – diz Serafim espantado...
- Eu sei... – diz convencida...
- Tem um erro... – diz Ivan...
- Só se for teu...
- Não, vem cá para verificares...
- Não tem erro nenhum! – diz Filipa apontando uma pistola à tola do Ivan...
- Pois não, agora é que vi...desculpa...
- Bom, e o que posso fazer para recompensar o facto de me terem salvado a vida? – pergunta a Filipa.
- Juju... – diz Serafim.
- Não... – diz Juju..
- Ó Juju...
- Oh...não
- Juju – diz Serafim com um sorriso...
- Nãoo...
- Juju...
- Está bem, podes vir connosco, ajudar-nos na nossa cruzada...
- Tipo, não era isso, eu estava a dizer para ela ser nossa escrava pessoal... – diz Serafim triste, por ver o seu desejo falhado.
- Agora já está – diz Juju.
- Estão com dificuldades? Eu sou perita!
- És? – pergunta Juju.
- Sim, faço todos os dias, no meu jornal...
- Não são essas cruzadas! Uma campanha, uma Jornada, uma viagem...
- Ah até onde?
- Até Utah, vamos em busca do meu tesouro! – diz Juju.
- Então vamos, também recebo um pouco?
- Sim...- diz Juju bufando – já que ajudas, também recebes...
- Oba! Então e...podemos levar a minha impressora e a minha carroça?
- Sim...amarrem-na aos cavalos! – diz Juju.
- A Filipa? – pergunta Ivan confuso.
- Não, a carroça dela...
- Ah...
Fazem-se à estrada, e sem saberem, a falsa da Filipa, deita migalhas no chão...para guiar a falsa Disfarçada, e o seu bando...
Umas horas depois...meio do deserto Americano
Juju está ferrada a dormir, enquanto o cavalo corre feito maluco, até que é acordada pelos gritos do Serafim, que estava em cima de outro cavalo, também a correr que nem um doido:
- Ó VACA! ACORDA! ACORDA JUJU! ACORDAAAA! – berra Serafim desesperado.
- O que é? – diz meio sonolenta.
- ESTAMOS A SER PERSEGUIDOS PELO O BANDO DA DISFARÇADA.
É verdade. Já tinha passado algum tempo desde que ela ferrou a dormir, e estava agora no meio de uma fuga que envolvia tiros, entre o Bando da Juju e o Bando da Disfarçada.
- E SÓ ME ACORDAS-TE AGORA? – grita Juju, furiosa.
- JÁ TE CHAMEI 500 VEZES! – berra Serafim.
- BAIXEM-SE! – grita Ivan.
Baixaram-se todos, porque atrás deles, ia Duarte em cima de uma carroça, enquanto o Bruno disparava balas de um canhão.
- TEMOS DE OS DESPISTAR! – grita Filipa.
- MAS COMO? – pergunta Serafim.
- JÁ SEI! – grita Juju – SIGAM-ME!
Teve uma brilhante ideia, e, para executa-la, precisava que o seu cavalo acelera-se mais, e deu-lhe com um chicote, mas o cavalo, não achando piada nenhuma á situação, embirrou e começou a galopar mais devagar, enquanto a Juju dava mais vezes com o chicote, até que o cavalo se cansou e atirou-a para o chão.
Os outros membros do seu bando, pensando que aquilo era o plano dela, pararam os seus cavalos, e atiraram-se para o chão.
Estavam agora Ivan, Filipa, Serafim e Juju no chão, apanhar sol, de olhos fechados, pois estava calor, e deviam era estar na praia, mas enfim, o deserto é parecido.
Abrem todos os olhos, menos a Filipa, e reparam que estavam rodeados por Duarte, Bruno, Mariana e a Disfarçada, que lhe apontavam pistolas e caçadeiras. Levantam-se, e a Juju diz, cerrando os dentes:
- É agora camaradas...só temos uma hipótese...preparem-se para disparar...
- Tenho medo... – diz Ivan.
- Não te preocupes, estamos safos... – diz Juju tranquila.
- Estamos é tramados – diz Serafim.
- Nada disso, estes cobardes não tem coragem de disparar, mas nós temos... – diz Juju
- Calma! – diz Disfarçada – Calma ai com a violência! Nós só queremos o teu tesouro...diz-nos onde está, que deixamo-vos em paz...
- Já podiam ter dito – diz a Juju retirando-se da posição de combate – vão pela esquerda, e depois viram à direita, depois andam sempre em frente, e voilá, estão lá.
- E é preciso chave? – pergunta a Disfarçada.
- Não...
- Ok...adeus, baixem as armas meus caros – diz a Disfarçada, dando meia-volta e abalando dali.
- Juju...disses-te mesmo onde era? – pergunta Ivan.
- Não...mandei-os para um local com areia movediça, agora vamos, vamos embora daqui, que temos pouco tempo, até eles perceberem que era uma armadilha...
Sobem todos para os cavalos e saem dali. Mais longe, ouve-se os gritos da Disfarçada:
- AHHHHHHH! SACANA!
- Eu disse para não a ouvires – disse Duarte.
- VAMOS, TALVEZ AINDA A APANHEMOS! – grita a Disfarçada, metendo-se pela a estrada, atrás daquele bando:
- Ela às vezes, é meio burra... – comenta Duarte com Mariana.
- Podes querer, até parece que faz de propósito...
- Naa, burrice desta não pode ser fingida...
- Deves ter razão – diz Mariana.
- Tenho sempre razão, não é querer me gabar – diz Duarte gabarolas.
Vão atrás do Bando da Juju, que anda às voltas pelo o deserto Americano, tentando despista-los, apesar de não conseguir, porque a Filipa lança migalhas para marcar o caminho.
Acampam numa montanha. É noite. Juju convoca uma reunião especial, apesar desse poder estar reservado a Duarte e Serafim:
- Temos um problema.
- Conta – diz Serafim.
- Temos alguém no nosso grupo infiltrado.
- Impossível...só se for aqui o Ivan... – diz Serafim gozão.
Filipa começa a tremer, temendo que seja descoberta:
- E é ele...
Filipa suspira de alívio:
- O QUÊ? – grita Ivan – COMO PODES DIZER ISSO?
- Vêem Serafim e Filipa? É mesmo ele o espião, agora está aos gritos para revelar a nossa posição.
- Malandro – diz Serafim.
- Que desilusão... – diz Filipa com uma lágrima no olho.
- Bom...Ivan, pelo o poder que eu investi em mim, vais ficar aqui amarrado, à mercê dos coiotes, enquanto nós nadamos em ouro...é o preço da tua traição.
- NÃOOOOOO! – grita Ivan, enquanto é amarrado, sem resistir.
- Nem se defende nem nada – diz Serafim.
- Que estranho... – diz Filipa.
- Os culpados sabem quando o são... – diz Juju.
- Ah...
- Ah...
- Na realidade droguei a sua comida de forma a não poder-se mexer... – diz Juju esclarecedora.
- Ah...
- Ah...
Fogem dali. O Bando da Disfarçada, que seguia as migalhas, depara-se então com Ivan, a meio da noite:
- Ivan? Tu aqui? – pergunta Bruno.
- Sim...a Juju traiu-me...aposto que vai trai-los a todos, só para ficar com o tesouro todo.
- É provavél... – diz a Disfarçada que aparece das sombras.
- QUE SUSTO! – grita o Ivan.
- Desculpa, esperei nas sombras para fazer a minha entrada mais dramática.
- Ok... – diz Ivan.
- Continuando...mas se te juntares a nós...prometo que não serás traído...o que é teu é teu, o que é meu é meu...e o tesouro será dividido.
- É verdade Bruno? – pergunta Ivan, tentado a juntar-se ao Bando da Disfarçada.
- É verdade...e há outra pessoa que te pode confirmar tal coisa...
- Eu... – diz Duarte, que aparece das sombras.
- QUE SUSTO! – grita Ivan.
- E eu... – diz Mariana, também aparecendo das sombras.
- QUE SUSTO...já paravam...há mais alguém? – pergunta Ivan.
- Não... – diz a Disfarçada... – somos só 5...
- 5? Eu só vejo 4!
- Incluindo-te a ti...Ivan – diz a Disfarçada soltando o Ivan das cordas.
Ajoelham-se todos e dizem em conjunto, menos o Ivan:
- Sê bem-vindo, Ivan Embaló, o Bando da Disfarçada sauda-te!
- Até estou comovido...no Bando da Juju, era só “parabéns”, beber um golo de água e já estava...gosto mais de vocês malta...
- E ainda não viste nada Ivan...maestro – diz a Disfarçada.
Duarte de repente aparece a conduzir uma orquestra, e a Mariana aparece a dançar, e o Bruno com uma mesa cheia de comida, seduzindo o Ivan...que fora amarrado ali pela Juju, para espia-los...mas assim, desviando-o do seu propósito, ficavam com um membro a mais, que podia contar o paradeiro do tesouro, e resultou.
A cruzada continuou durante um ano, com a Juju e o seu Bando sempre às voltas, para despistar os outros, mas nunca conseguindo, até que desistiram e foram a Vegas, descansar um pouco...




Continua...

terça-feira, 18 de maio de 2010

A Coveira de Massamá

Leia também a Coveira de Massamá, blogue relacionado com o Cá-a a Boca, onde são demonstradas as peripécias da Coveira de Massamá amiga da Juju, inimiga do mundo.

domingo, 9 de maio de 2010

Hino das Personagens

Canção de Juju Sahêmé, Joana Mateus



Canção de André Serafim Saudade


Canção de Ivan Embaló, infelizmente incompleta (mas em breve completa, claro)


Aceitamos sugestões para os hinos dos outros personagens, obrigado

terça-feira, 4 de maio de 2010

Cá-a a Boca 35 - Tudo pelo o que é da Juju

Depois dos Acontecimentos de “A Juju vai para o Oeste”

Bruno é mulherengo, Filipa é sarrafeira, Serafim é desonesto, Ivan continua a ser índio e a Juju está marreca.
Um homem vai todo lançado, montado no seu cavalo alugado, a galopar o mais rápido possível para fora de Chesterfield City. Depois de algum tempo a galopar, chega finalmente ao seu destino...

1951,Tribo dos Embaló, dia 6 de Julho, 9:00
Avista ao longe os tipis daquela aldeia, e claro, sem saber que estava a ser vigiado, é preso por índios. De seguida é enviado ao grande Chefe Papa Azeitona, para ditar a sua sentença:
- Teu Escalpe, vai decorar meu tipi – diz Ivan satisfeito.
O Homenzito começa aos gritos, a implorar misericórdia...tão ingénuo. Mas, naquele clima de terror para um e alegria para muitos, chega, armado em justiceiro, Bruno:
- NÃO!! – grita de braços no ar – Irmãos Peles Vermelhas não tirar escalpe a cara-pálida, pois cara-pálida ser amigo.
- Ohhh – suspiram todos, soltando o Homem.
- Más noticias tó? – pergunta o Bruno.
O homem vai para responder mas é interrompido por Serafim, que aparece curioso:
- O que se passa?
- O Patrão morreu... – diz o homem apelidado de Tó.
- Quem o matou? – pergunta Bruno chocado, tirando o chapéu da cabeça.
- A Disfarçada... – diz Tó baixando a cabeça.
- Quem é que morreu? – pergunta Serafim
- O Duarte...foi assassinado pela Disfarçada...
- Como? Ele era invencível!
- Tinha um ponto fraco, a orelha direita...mas Zé, ele conseguiu matar ou menos a Rita? – pergunta Bruno ao homem que agora chama-se Zé.
- Sim, desafiou-a para um duelo, matou-a e depois a Disfarçada assassinou-o...
- Sacana! – diz Bruno, enquanto uma lágrima vem ao seu olho. – Xô lágrima!
- Trouxe isto – o agora Zé tira um pano do bolso e dá ao Bruno, que por sua vez desembrulha e tira o que lá estava embrulhado, um cigarro, o cigarro do Duarte, e dá o pano ao Serafim.
- Para mim? - pergunta Serafim feliz
Bruno ignora-o e diz: - Obrigado Abel, o que vais fazer agora?
- Bom... – diz o homem que agora chama-se Abel – para ser sincero...não sei.
- Fica connosco pá...nós também não sabemos o que vamos fazer, mas por agora, vamos prestar homenagem ao Duarte. – termina Bruno.
Foram então enterrar o cigarro do Duarte, disseram palavras bonitas, e depois, foram para a borga, porque a vida não é só tristeza, também é água-de-fogo e cachimbo da paz.
Anoitece...e uma vez mais, estava a Disfarçada a observar do monte, acompanhada pelos os seus coiotes, o Pedro e a Maria, que estavam entretidos um com o outro.
Bruno e Serafim estão à volta da fogueira, a falar sobre a vida quando...de repente...aparece das sombras... Juju Sahêmé.
- Olá...lembram-se de mim – pergunta Juju baixinho, toda suja, com bigode por fazer, a cheirar a bisonte, e claro, marreca.
- JUJU!! – exclamam Bruno e Serafim.
- Chiu...falem mais baixo, a Disfarçada está a observar-nos lá em cima.
- Morreu? – pergunta Serafim olhando para o céu estrelado.
- Não anormal, ali... naquele monte...
Eles olham, Bruno nada vê, por estar escuro, mas Serafim, usa a sua visão supersónica e vê-a, até podia descrever como está vestida, por ter uma visão tão potente.
- O que fazes aqui? – pergunta Serafim – endireita-te pá!
- Vim pedir-vos ajuda...
- Para quê?
- Para irmos buscar o meu tesouro e fugirmos daqui...
- Porque é que queres dividir o tesouro? Sabes...isso vindo de ti, não parece ser de confiança, afinal, tu és conhecida pelos golpes sujos – diz Bruno suspeitando.
- Eu prometo que não faço golpes sujos... – diz Juju – e preciso de vocês porque é muito tesouro, e dividir não faz mal, os meus pais ensinaram-me a partilhar.
- Aldrabona – diz Serafim baixinho
- O quê? – diz Juju.
- Nada, nada...
- Vá...anda lá Serafim, vamos divertir-nos à grande, é mesmo uma grande fortuna.
- Não sei Serafim, se deviamos ir, sinto-me tentado... – diz Bruno prestes a cair na tentação.
- Hum...como arranjas-te este tesouro? – pergunta Serafim.
- Foi à muito tempo, mesmo muito tempo...acho que tu eras o único que não estava lá...
- Pois é...não estavas lá – diz Bruno – eu lembro-me!
- Tu estavas? – pergunta a Juju.
- Sim, tu roubas...
- AHH...cala-te – diz Juju tapando a boca do Bruno – então, o que dizes meu xux...digo, Serafim?
- Hum...
De repente, aparece Ivan:
- Hau irmãos pálidos! Pensar que isto ser Hotel? Vocês só trazer cá estrangeiros.
- Perdoai-nos grande Sachem, nós compensar tu com ouro, que dizes? – diz Bruno seduzindo o Ivan com ouro.
- Não, eu ser muito honesto e purificado, minha tribo ser meu metal amarelo...
- Chefe é que saber...nós amanhã vamos embora com Juju, buscar ouro.
- JUJU??? – grita Ivan – TU? AQUI??? NÃO, NÃO, vai-te embora, tu trazer desgraça a nossa tribo, Disfarçada vir e incendiar a aldeia e saber que estás aqui, SAI DAQUI JUJU! VAI-TE EMBORA!
- Chiu ! – dizem todos.
Conseguiram calar o Ivan, mas já era tarde, a Disfarçada já sabia que a Juju estava aqui. Uivos de coiotes ecoam pela região, e o galopar do Bando Disfarçado, fez-se sentir.
- Evacua a aldeia Papa Azeitona, tira o teu povo daqui, senão morrem todos!! – diz Bruno, muito agitado.
- Tu! – diz Ivan a um índio que estava a passar – TOCA O ALARME!
- Não devia ter vindo – diz Juju – mais valia ter ido pedir ajuda a bêbados.
O Alarme começa a tocar, um índio começa a bater nos tambores, as pessoas começam a sair dos tipis, Serafim, vai a correr ao tipi onde estava o seu filho, Martim, ferrado a dormir, e leva-o dali. O Bruno vai ter com o Ivan e pergunta:
- Para onde vamos?
- O Meu povo fugir pelos tunéis das irmãs toupeiras...vocês ficar aqui, é vocês que a Disfarçada quer.
- Papa Azeitona, leva-nos contigo...por favor – implora Bruno.
Ivan hesita, mas vê o Bando da Disfarçada a chegar e diz misericordioso:
- Está bem, mas DESPACHEM-SE!
Entraram todos por um alçapão que lá estava, e fecharam-se nos túneis, mas infelizmente, ficaram quase todos os índios para trás...pois pensaram que era um exercício, e morreram, esquartejados pelo o Bando Disfarçado. Foi cruel, mas a ganância pelo o ouro, faz estas coisas feias. Queimaram a aldeia e foram-se embora...em busca da Juju, que se escondeu também nos túneis, mas simulou que fugiu dali. E a Disfarçada, apesar de muito inteligência, estava cega pelo metal amarelo, e tótó, foi atrás da simulação feita pela Juju.

Dia Seguinte, ruínas da Tribo Embaló, 6:30
Saem dos túneis, uns a chorar outros a cantar. Ivan Embaló está de rastos...e quando vê a Juju, a tocar guitarra e a cantar alegre, ignorando a morte dos índios, passa-se e vai-lhe à tromba. Só não a matou porque por acaso tinha comida no forno e para não a queimar interrompeu a porrada.
- Bom, e agora? – pergunta Bruno ao ar.
- Olhem, eu vou atrás do tesouro, mas não levo o meu míudo connosco. – diz Serafim
- Para onde o vais por? – pergunta Bruno
- A Dallas City, onde está a sacana da mãe dele.
- Eu posso leva-lo lá... – diz o homem sem nome.
- Fazias isso por mim? – pergunta Serafim
- Sim, claro, e para mais, tenho a minha amada lá.
- Então vá, leva o puto do Serafim, Manel – diz Bruno.
- Obrigado – diz Serafim entregando a criança ao agora Manel.
- Quando vires a tua mãe dá-lhe um chapadão por mim, e diz-lhe que fui eu, que assim não ficas de castigo, e ignora tudo o que o sacana do chinês disser...isto se ela não estiver com outro. – diz Serafim abraçando a criança. – agora vai, vai e não olhes para trás, para não tropeçares no caminho. Nunca mais venhas para esta região, eu depois irei ter contigo meu filho.
- Adeus Vicente – diz Bruno ao agora Vicente.
- Adeus...
E o homem sem nome e o Martim abalam daquele lugar...
- Ele não se chamava Manel ou Zé?
- Não... – diz Bruno – ele não tem nome, chama-lhe o que quiseres, desde que não seja “sem nome”, esse foi o erro do Duarte.
- O que lhe aconteceu? – pergunta Serafim.
- Ficou com um ponto fraco na orelha direita, criado pelo Carlos.
- Quem é o Carlos?
- O que levou o teu míudo...
- Então não se chamava sem nome?
- Não, ele não tem nome, por isso chama-lhe tudo menos sem nome...ok? percebes-te?
- Sim, não estava atento, desculpa...
- Eu perdou-te. Bom, Juju, e agora? – pergunta Bruno, não sabendo o que fazer.
- Agora, vamos buscar o tesouro...
- Sim isso já percebemos, mas vamos para onde?
- Vamos naquela direcção – diz Juju apontando para Noroeste.
- Então ala que já se faz tarde.
- Déja vu! – diz Serafim.
- O quê? – pergunta Bruno.
- Nada...
Estão para partir, começam agarrar nas suas coisas, até que Ivan Embaló aparece:
- Hau! – diz Ivan
- Hau grande Papa Azeitona. – diz Bruno
- O meu povo partir para terras longe daqui...longe da Disfarçada...
- Então e tu? – pergunta Serafim.
- Eu poder ir com vocês?
- Sim... – diz Serafim.
- Sim... – diz Bruno.
- Não... – diz Juju.
- Bom, dois sims um não, podes vir – diz Serafim.
- Pois mas o tesouro é meu! – diz Juju mostrando que detém o poder.
- Vá lá Juju, porque estás assim? – questiona Serafim
- Porque ele deu-me tareia.
- Isso é passado – diz Bruno.
- Mas eu é que estou marcada – diz Juju apontando para as suas gigantes feridas.
- Oh, é só um arranhãozito ou dois – diz Serafim minimizando os estragos.
- Nem se vê – diz Bruno aldrabão.
- Ele só vai se pedir desculpa – diz Juju.
- Eu pedir desculpa a ti – diz Ivan.
- Estás perdoado.
- Agora abraço – diz Bruno sacana – vamos lá!
Hesitam os dois, até que o Serafim, também sacana dá, enquanto se ri, um empurrão ao Ivan, que cai nos braços da Juju.
- Bom, tens é de mudar o sotaque e as tuas vestes – diz Bruno – isto é...se queres passar despercebido.
- Eu conseguir, a partir de agora, Grande Chefe chamar-se só Ivan e falar como vocês.
- Prova-o – diz Serafim desafiador.
- Olá, desejaria verificar se tenho um punho esquerdo forte? – pergunta Ivan a Serafim.
- Demasiado culto...mas enfim...agora as tuas vestes.
Vestem o Ivan de cowboy, e dão-lhe uma nova profissão, arrumador de cavalos, para se alguém perguntar.
- Então e agora? – pergunta Bruno a Juju.
- Precisamos de mantimentos – diz Juju.
- Podiamos ir a Chesterfield City. – diz Serafim.
- Muito arriscado, e aliás, eu sou procurada em toda a região. – diz Juju.
- Porquê? – pergunta Serafim.
- Enquanto estive “fora”, cometi uns crimes menores – diz Juju – de pouca importância – diz aldrabona. Foram na realidade muito graves.
- Estou a ver, então vamos nós os três lá, e tu escondes-te na gruta onde eu e o Duarte estivemos à uns dias atrás. – diz Serafim.
- Ok, então até logo... – diz Juju.
Metem-se a caminho de Chesterfield City, mas como antes, pararam numa tascazita para petiscar qualquer coisa, e claro, na palheta, só chegaram à cidade por volta das 11 da noite.


Chesterfield City, 23:20
A Cidade está super movimentada. O que significa cuidado especial, mas assim que lá chegaram, Bruno foi para um sitio e Ivan e Serafim para outro. O Bruno, mulherengo de coração, foi ao bordel e o Ivan teimava que queria experimentar entrar num Saloon. Em vez de limitarem-se a comprar mantimentos, tinham de ir para a borga outra vez:
- Ivan, antes de entrares no Saloon, tens de meter uma coisa na cabeça – diz Serafim muito sério.
- O que é? – pergunta Ivan, que só queria era dançar.
- Tu és preto, e os americanos são racistas, portanto cuidado, ok? Se houver problemas, eu digo que és meu escravo, só para não seres assassinado.
- Ok, podemos ir então? – pergunta Ivan, que não ouviu nada do que saiu da boca do Serafim
Estão em frente ao Saloon, já ouvem a música e os gritos de festa, foguetes são lançados, Ivan tem os olhos a brilhar. Avançam e entram lá para dentro.
Está totalmente lotado. Pessoas em todo o lado, em cima das mesas, em cima do bar, aos tiros, aos gritos, a jogar cartas, a cantar, a dançar. No palco, três mulheres estão a dançar, e um homem está a tocar piano, de chapéu na tola, camisinha e lacinho, e cigarro na boca:
- Agora cuidado, esta gente não é de confiança – diz Serafim que olha para o lado, onde supostamente estaria o Ivan, mas já não estava, estava agora no meio das meninas do palco, a dançar. Bufa e vai ao bar:
- Era um licor beirão.
- Tome – diz a barman, que por acaso era a Filipa, mas Serafim não reparou.
Serafim bebe um golito, olha para o Ivan a rir, e desvia o olhar para o pianista, e cospe o que acabou de beber:
- Não acredito – diz chocado.
- Não está bom? – pergunta Filipa – é da minha Adega...
- Não é isso... – Serafim foca o olhar no pianista e avança na direcção do palco, atropelando umas pessoas:
- É mesmo ele... – diz ainda olhando para o pianista, que era nada mais que, Duarte, sim, ressuscitado, de bigode feitinho e cara lavada. Decide olhar para o Ivan, que está entertido a dançar com as moças, até que vê outra cara conhecida, a Mariana, que estava a servir bebidas aos saloios do sítio. Vai ter com ela:
- Mariana? – diz agarrando-lhe no braço.
Ela olha e diz:
- Desculpa Serafim, SOCORRO!! ELE QUER-ME ROUBAR!!
- Ah? – Serafim fica a toa.
A música pára. Ficam todos especados a olhar para Serafim. Duarte levanta-se do banquito do piano e grita, atirando uma corda para cima do Serafim:
- ENFORQUEM-NO!
- YEAAH! – diz a multidão feliz.
Uns homens grandes e largos agarram nele e levam-no para fora do Saloon, seguidos de uma grande multidão.
- ENFORQUEM-NO NO VELHO CARVALHO! – grita Duarte, que vai no meio da multidão.
Ivan, que ia lá atrás, tenta passar pelas pessoas, para salvar a vida do Serafim. De repente a multidão pára. Chegaram ao velho carvalho:
- Últimas palavras? – pergunta o Xerife ao Serafim.
- Estou inocente!! ESTOU INOCENTE!
A Plateia começa-se a rir:
- PAREM! – grita Ivan, que consegue chegar lá à frente. Ficam todos calados para ouvir o arrumador de cavalos. Ivan fica nervoso, e a diz a primeira coisa que lhe vem à cabeça:
- Ele é o meu senhor, eu sou seu escravo!
As pessoas ficam chocadas e começam aos gritos e atirar com tomates à cara do Serafim:
- CRIMINOSO! NÃO RESPEITA OS DIREITOS DAS PESSOAS! ENFORCA QUE É RACISTA!
Ivan fica a toa, “se calhar não devia ter dito isto”.
Duarte avança e mete a corda à volta do pescoço do Serafim, pendura a corda num tronco do carvalho, e voilá, aurevoir Serafim. A multidão aplaude eufórica, acalma-se e vai-se embora. No Bordel, que era ao lado do velho carvalho, uma janela abre-se, e de lá sai para fora a cabecinha do Bruno que grita:
- JERÓNIMO!!
Ivan deita uma lágrima e vira as costas, para voltar à borga.
Serafim está agora, morto, no velho carvalho. Ou talvez não. Pois por artes mágicas, alguém prendeu a corda a um cabide, que foi colocado habilmente nas costas de Serafim, que simulou a sua morte, mas afinal não. Serafim solta-se, e vai ao Bordel.
No saloon, está tudo na boa vida, a festejar e tal, quando a porta abre-se, e entra lá para dentro, o Serafim, com uma caçadeira na mão, e o Bruno, com um revólver que roubou a um bêbado lá fora.
A música pára outra vez. Olham todos para o Serafim, e Ivan diz feliz:
- ESTÁS VIVO!
Serafim, irritado com Duarte que o enforcou, dá um balazio ao seu piano.
Olham todos para Duarte, como quem diz “Serafim, estás tramado”, que fulo com a vida, cara vermelha e lágrimas nos olhos grita:
- BANZAI!!!
Vai a correr na direcção do Serafim, dá-lhe um soco, e começa uma pancadaria geral no Saloon. Bruno pousa o revólver no chão, e vai com as dançarinas para os quartos lá de cima.
No meio da confusão aparece Juju, que pergunta ao Ivan:
- Então?
- Então o quê?
- Tanto tempo?
- Estamos ocupados – diz Ivan dando um pontapé a um que estava prestes a sacar da pistola.
- O Bruno e o Serafim?
- O Bruno desapareceu... – faz uma pausa, para dar com a cadeira na cara de um sujeito, e depois prossegue – e o Serafim, está a pancada com o pianista.
- Vamos embora daqui, a Disfarçada mais o seu Bando, vêem a caminho... – diz Juju preocupada.
- SERAFIM! DISFARÇADA VEM AI! – grita Ivan ao Serafim, que estava ao pé do palco.
- OK! Adeus Duarte – diz Serafim dando um soco no Duarte e abalando.
- O BRUNO? – grita Serafim pisando umas cabeças.
- NÃO SEI! – diz Ivan já saindo do Saloon.
Continua a pancadaria no Saloon, e Filipa, que tinha sacado da máquina fotográfica, pôs-se a tirar fotografias.

Chesterfield City, Saloon, dia 8 de Julho, 07:40
Montes de pessoas estão deitadas no chão, umas a dormir, outras a chorar, outras a cantar, outras a fumar. Sangue está espalhado por todo o lado. Suavemente, entra a Disfarçada pelo Saloon a dentro, um passo de cada vez, dando pontapés aos que por acaso estão no seu caminho:
- Queres beber alguma coisa Disfarçada? – pergunta Filipa.
- Sim, gin tónico, o que é que aconteceu aqui? – pergunta a Disfarçada.
- O Serafim apareceu, com o Ivan e a Juju.
- E não os paras-te?
- Porque haveria de o fazer? Não trabalho para ti.
- Pois, tens razão, o Duarte?
- Ali, ao pé do piano... – diz apontando para o palco.
Duarte estava todo negro e vermelho, a sangrar e com um saco de gelo na tola:
- Então? O que aconteceu?
- Epá, cai do palco, enquanto tocava piano... – diz Duarte mentiroso.
- Foi o Serafim, deu-lhe esse enxerto. – diz Mariana
- Malandro – diz a Disfarçada.
- É mentira... deu-me um soco ou outro, nada de especial.
- Pois...
- Eu dei-lhe mais! – diz Duarte mentiroso.
De repente ouve-se uma porta a bater.
- Quem é que está cá?
- O Bruno – diz Mariana olhando para o quarto.
- Então, quando ele descer, não o deixem sair, quero falar com ele, vou à casa de banho.
Passado um bocado, Bruno abre a porta e sai do quarto:
- Foi um prazer meninas...
- Aurevoir monseiur Bruno! – dizem as dançarinas a rir.
- Aurevoir, mas voltarei... – diz Bruno atiradiço descendo as escadas. Olha para o Duarte, para a Mariana, e a para a Disfarçada que já tinha vindo do W.C.
- Duarte? Estás vivo?
- Sim...
- Desce Bruno, quero falar contigo – diz a Disfarçada.
- Claro...adeus – diz Bruno virando as costas e começando a correr, entrando no quarto.
- APANHEM-NO! – grita a Disfarçada ao seu bando, que vai atrás dele.
- OLÁ MENINAS! – grita Bruno, meio agitado.
- Monseiur Bruno! Aqui outra vez! – dizem sorridentes.
- Aurevoir madmoiselles, foi um prazer! – diz abrindo a janela do quarto. A porta do quarto abre-se e um dos homens da Disfarçada grita: - AGARREM-NO!
Bruno salta, e cai lá para baixo, ficando inconsciente.



Prisão do Xerife, Chesterfield City, dia 8 de Julho, 15:54
Bruno está atrás das grades. Duarte está sentado numa cadeirinha do outro lado, a assobiar:
- Então agora és Xerife? – pergunta Bruno, que tinha acabado de acordar.
- Não...sou pianista... – diz Duarte, que parou de assobiar.
- Porque é que estou preso? – pergunta Bruno.
- Porque a cidade pertence à Disfarçada...e ela quer falar contigo, vou avisar que já acordas-te... – Duarte levanta-se e vai ao seu telégrafo, e telegrafa para a Disfarçada.
- Então e...encontras-te-a? – pergunta Duarte.
- Não...infelizmente não... – responde Bruno.
- É pena...
- Pois...
Momento de silêncio:
- Deves estar mortinho para saber o que se está a passar, não? – pergunta Duarte.
- Sim estou! – responde Bruno.
- Vais perceber tudo, não tarda nada...
- Óptimo.
- Óptimo.
- CHEGUEI!! – grita a Disfarçada abrindo a porta, acompanhada por Mariana. – Olá Bruno...estás bom?
- Estou...
- Obrigado por perguntares se eu estava bem...
- De nada...
- Vá Disfarçada, revele-te lá... – diz a Mariana.
- Ok...Bruno...eu, a Disfarçada sou a... – tira o chapéu e o lenço que tapava a sua boca e o nariz... – a Filipa...
- Devias ter vergonha...tudo o que fizes-te – diz Bruno.
- Fiz pelo o que é da Juju...


Continua...

Cá-a a Boca 34 - A Juju vai para o Oeste




Depois dos acontecimentos de “O Mistério da Juju”

Bruno é empreiteiro, Filipa é telegrafista, Duarte é cangalheiro, Serafim foi abandonado, Rita rouba cavalos, Ivan é o chefe Índio da tribo Embaló e a Juju é pistoleira.

1951, Chesterfield City, Oeste Americano
- Saca da pistola sua canalha! – diz Duarte, de chapéu de cowboy na tola, cigarro na boca e escarra no chão.
- Espera pelo o toque, Old Dog! – diz Rita, em posição de lutador de sumo, prestes a puxar do revólver.
São 11:59. Falta um minuto para a hora do almoço, um minuto para começar o duelo. Estão no meio da rua daquela cidade, frente a frente, no meio do deserto americano, a levar com um Sol ardente. Uma grande multidão observa contente este confronto, “a gente quer é sangue”, pensam eles. Toca o sino da Igreja, hora do duelo, mas também hora do almoço, por isso dão todos meia volta e vão almoçar.

1950, Cartuxa City, Casa do Saudade, Oeste Americano, por volta das 23:40
Depois da vinda de Portugal para os States, Serafim Saudade casou 5 vezes, garanhão, enviuvou 4 vezes, e à quinta, foi abandonado pela mulher, que fugiu com um chinês. Desses casamentos, teve um filho, e isso foi motivo de felicidade. Mas têm sempre na memória o falecimento da detective Mariana, que ninguém sabe quem a matou, excepto a própria assassina:
- Pai conta-me uma história... – diz Martim, o seu filho, que estava enfiadinho e quentinho na cama.
- Falta qualquer coisa – diz Serafim, espalhando os ensinamentos da boa educação.
- Se faz favor – diz Martim a rir-se.
- Ah bom, então, vou-te contar uma história...era uma vez um rei...
- Simm?... – diz contente e entusiasmado.
- Agora conta tu que eu já contei, ahaha – diz Serafim gozão.
- Ó pai conta lá!
- Está bem, eu conto, então, era uma vez uma rainha...
- Sim, sim? – diz ainda mais entusiasmado.
- Agora conta tu a tua que eu já contei a minha... – diz outra vez gozão.
- Fogo pai, és mau!
- Mau? Eu? Não, não, eu não sou mau, sou bera!
- Ó pai vá-lá! – implora Martim.
- Está bem, eu vou-me embora, vou dormir, e tu também, vá que até te contei duas histórias...
- Ó pai, não é justo, eu...
- BAIXA-TE! – grita Serafim que agarra na sua criança e atira-o para o chão, atirando-se logo de seguida.
Os vidros partiram-se, e os móveis também, porque um engraçadinho está lá fora a disparar balas de uma metralhadora. Quando as munições acabaram, atirou um archote para cima da cama, que começou a arder. Serafim, protector, agarrou na sua criação e levou-a para fora dali, para fora da casa.
Chegou lá fora, e a sua casa ardia imensamente, porque um bando de desperados atiravam archotes para cima da mesma, “malandros” dizia o Serafim.
A Casa desapareceu nas cinzas num instante, numa questão de segundos, pois era de madeira e os archotes eram de última geração. Uma pessoa encapuçada, em cima de um cavalo preto, aproxima-se de Serafim:
- Quem és tu? – questiona zangado Serafim.
- Eu sou a líder do Bando Disfarçado, e sim, sou a Disfarçada – disse ela com sotaque francês
- E o que é que tu queres disfarçada? – pergunta Serafim.
A Disfarçada vai para responder, mas é interrompida por um disparo de uma caçadeira:
- SERAFIM!! AGARRA NO PUTO E FOGE!! – grita Duarte, que aparece da escuridão num monte ali ao pé, rodeado de dois homens sem importância, os seus trabalhadores.
- TU! – diz a auto-intitulada de Disfarçada.
- EU! – diz Duarte aos berros – Afasta-te deles Disfarçada, sai daqui, volta para o buraco de onde sais-te, ou faço-te um caixão muito bonito...
- Porque haveria de querer um caixão?
- Porque eu vou matar-te, se não te puseres a andar! – diz ameaçador, enquanto Serafim fica ali parado a ver a conversa – e não te preocupes, os meus artigos são feitos para durar...
Momentos breves de tensão, mas terminados por Duarte que dispara para o ar:
- ENTÃO?? DESAPARECES OU NÃO?
- Está bem... – diz Disfarçada mascando tabaco -...eu vou-me embora, mas levo o puto comigo – diz dando um coice no Saudade e agarrando no seu filho – diz-me onde está a Juju se queres o teu filho!
- NÃO! – grita Duarte disparando para os desperados, matando alguns, que fugiram dali.
Serafim ficou ao pé da casa destruída, chorando e chorando, mas Duarte, amigo que ele não conhecia foi ter com ele:
- Porque não fugis-te logo? – pergunta, olhando para o horizonte, mas não via nada, porque estava escuro...
- Eu...eu...
- Deixa lá. Eu consolo-te amigo...

02:20 da Manhã, Saloon de Cartuxa City
A Casita do Serafim ficava afastada da civilização, porque ele era o abandonado. Duarte, simpático, levou o Serafim à bebida, que faz bem, nestes momentos tristes:
- Bebe Saudade, bebe tudo a que tens direito, amanhã vamos em busca do teu filho... – diz Duarte, com um cigarro na boca – onde está a Juju? Talvez ela pode ajudar-nos...
Serafim estava bêbado, bebia para matar a mágoa, e Duarte, amigão, incentivava:
- Eu não faço a mínima ideia de onde está a Juju...
- A sério? Então a disfarçada raptou o míudo para nada, mas não te preocupes, vamos encontrá-lo!
- Porque é que me queres ajudar? Não te conheço de lado nenhum...
- Serafim, a disfarçada fez o mesmo comigo à 4 anos atrás, quando vieste de Portugal para a Cartuxa, ela levou-me o filho...
- Porquê?
- Porque recusei-me a entregar-lhe o paradeiro da Juju...e eu fui atrás dela, e a sacana largou-o no Mississipi – diz começando a chorar – e eu atirei-me para lá, tudo pelo o meu míudo, mas quando apareceram os crocodilos, eu deixei-o cair na cascata, e sai de lá, para sobreviver, estou tão arrependido! – termina em lágrimas.
Serafim bêbe litros de whiskey, enquanto Duarte chora, depois recompôem-se e diz:
- Fui um péssimo pai, mas não vou deixar que faças o mesmo! Vou ajudar-te a salvar o teu filho!
- ENTÃO VAMOS! –grita Serafim, mais para lá do que para cá.
- Não...tu agora vais dormir, mas amanhã vamos...

06:30, Pocilga do Serafim
Serafim está ferrado a dormir, no meio dos seus porcos, fede até dizer chega. Duarte está a observa-lo, com um sorriso na cara, tem um balde cheio de água nas mãos, e cigarro na boca, claro. Atira a água e o balde para cima do Serafim e grita:
- ACORDA!!
Serafim acorda e dá-lhe um tiro no tronco. O Duarte não caiu, não morreu e nem ficou ferido, porque é imortal! Não, é porque foi prevenido, e pôs uma armadura debaixo do sobretudo que ele leva vestido:
- Vai tomar banho seu porco, cheiras mal...
- Estás a falar comigo? – diz Serafim rabugento, apontando a pistola à cabeça dele.
- Alguma vez? Estava a falar com o porco.
- Ah bom...
- Vá, toma banho para irmos em busca da Disfarçada e do seu bando...eu vou ao correio, depois vai lá ter.
- Ok... – diz Serafim mais calmo e obediente.
Serafim lavou-se e foi ter com o Duarte ao Correio:
- Estava a ver que nunca mais chegavas! – disse Duarte.
- Isso também é para enviar? – pergunta Filipa, a telegrafista.
- Não, claro que não, diga-me lá onde estávamos...
- Em “e estarei ai daqui a 6 meses, como combinado”.
- Ah, “Duarte Fernão”
- É só?
- Querias mais não era?
- Sim, queria...
- Pois mas não, eu sei que recebias mais dinheiro, quanto é?
- 560 dólares...
- Chama-se a isso roubar mas enfim...ah, Serafim, já conheces a telegrafista?
- Claro, ela era Presidente da nossa aldeia em Portugal...
- Que giro, tu nunca me contas-te isso Filipa... – diz Duarte coscuvelheiro.
- Ora, nunca perguntas-te – diz Filipa a sorrir falsificadamente.
- Pois, também é verdade, bom, goodbye Filipa, anda Serafim, Ala, que já se faz tarde!
Metem-se a caminho em cima de cavalos, e abalam de Cartuxa City. Partem em busca do jovem Martim, filho do Serafim, refém da Disfarça... Pela longa caminhada, encontram deseperados, muitos até, bandidos e coisas desse género, dando-lhes sempre porrada, apesar de não serem quem procuravam. Perto de Texas, sentam-se e observam a uma fuga de paralíticos, de uma prisão Texana Chinesa, comendo pipocas. Mais à frente, no meio do deserto, com um calor insuportável, meteram-se numa gruta, que estava mais fresquinha, e tentaram conviver com o urso que lá habitava, mas ele gostava as coisas de uma forma, e eles de outra, e isso resultou na morte do bicho.
Era noite. Agora estava frio, mas como estavam perto de uma fogueira acesa, estavam meio quentinhos. Um vulto apareceu, para tentar roubar os cavalos, e esse vulto, era nada mais, nada menos que, Rita Não Marques, a infame ladroa de cavalos. Malandra. Mas Bruno, que vinha a segui-los desde de Texas, preveniu aquela situação, e deu um tiro no chão que estava ao pé da Rita, sujando-lhe da roupa, e acordando os dois dorminhocos e o urso que estava morto:
- Rita? És mesmo tu? – pergunta Serafim.
- Sim sou eu! – diz Rita encostada à parede da gruta, enquanto o Bruno lhe apontava uma caçadeira.
- Ah ok, podias não ser – diz Serafim.
- Ela tentou roubar-vos os cavalos – diz Bruno.
- Malandra – diz Duarte, sacando da faca de cortar a manteiga, assustando a Rita – não te assustes, vou colocar manteiga no pão.
- E quem és tu? – questiona Serafim ao Bruno.
- Eu sou o Bruno Teixeira, o Empreiteiro de Texas, e vim atrás de vocês.
- Porquê? – pergunta Serafim.
De seguida, Duarte dá um tiro para cima do pé da Rita, que tentava fugir no meio daquela situação:
- Oh, desculpa – diz gozão.
- Porquê? – insiste o Serafim.
- Porque...ouvi uma conversa muito interessante...
- Que conversa? – pergunta Serafim.
- Entre a Disfarçada e a Rita...
Rita engasga-se.
- Hum...então vá, desembucha! DESEMBUCHA!!!
- Acalma-te Serafim – diz Duarte, de braços no ar.
- Bom, eu... – Bruno leva um tiro e cai no chão, disparado pela a Rita, que fugiu, cobarde.
- Estás bem? – pergunta Serafim preocupado.
- Estou, atirei-me para o chão para criar um dramazito...o Duarte preveniu-me...
- Como? De onde o conheces? – pergunta Serafim ao Duarte.
- Sabes Serafim, eu sou um homem cheio de conhecimentos, e não me lançava para o deserto numa grande cruzada sem o meu fiel trabalhador, Bruno, que se infiltrou no grupo da Disfarçada desde que o meu filho fez puff, e eu mandei-lhe um telegrama, no dia em que partimos, para nos ir dizendo o seu paradeiro e do Bando Disfarçado, por sinais de fumo, código morsa, e claro, migalhas no chão. E ele veio ter comigo, no dia em que observamos a fuga dos paralíticos, quando comeste a pipoca envenenada e foste para o W.C. e falou-me da conversa...contou-me tudo, e eu elaborei então um plano, pensado por moi que sou um génio, não é querer-me gabar... – termina Duarte, que pôe um cigarro na boca.
- E como é que ele foi aceite pela Disfarçada?
- Bom, ele contaria-te, mas o coitado sofre de amnésia, eu enviei-o para a Disfarçada, oferecendo os seus serviços de empreitar, e ela aceitou, tola. Ela pediu-lhe, quando a Rita chegou lá para tomar chá, para por salsa nos ouvidos, para conversarem sobre coisas privadas, só que ele pôs salsa falsa. Ouviu tudo! E parece que andam em busca da Juju, e que a querem matar, depois de descobrirem o tesouro.
- Coitada da Juju – diz Serafim
- Pois...tadinha...- diz Bruno
- Mas espera ai! Como é que tu conheces a Juju?
- Bom, eu sabia que ias perguntar isso um dia, mas bom, a Juju, ela, é...minha irmã...
Momento de chorque.
- O QUÊ? – perguntam Bruno e Duarte.
- Sim, é triste e pobrezinho, mas infelizmente verdade. O meu pai, Fernão Grande, num dia em que estava bêbado, meteu-se com a Mãe da Juju, a Vestalau Sahêmé, e ela nasceu, mas isso não importa.
Momento de Silêncio. Bruno e Serafim, olham um para o outro, e desmancham-se a rir.
- Então e....porque andam atrás da Juju? – pergunta o Serafim, no meio de lágrimas de riso.
- Tu não te lembras? Andam atrás do seu tesouro. E há mais uma coisa, a Rita está envolvida naquele caso da “simulação de morte” da Juju, e mais, é provável que tenha sido ela a matar a Mariana.
- Também conheces-te a Mariana? – pergunta Serafim, agora mais sério.
- Sim, no Avante, mas isso não importa. Ah, e descobrimos o teu filho!
- ONDE??? ONDE É QUE ELE ESTÁ?
- Está com a tribo dos Embaló. Já preparei tudo na minha mente, tu vais lá com o Bruno, que sabe como falar com eles, e é de confiança, enquanto eu vou a Chesterfield City, onde se encontra a Disfarçada e a Rita...E é aqui que os nossos caminhos se separam...
- Porquê? – diz Serafim, triste e confuso.
- Porque tu andas em busca do teu filho, eu quero matar a Disfarçada e a Rita...
- Porquê? – pergunta Bruno.
- A Disfarçada, porque matou o meu filho, e a Rita, por outras razões.
- Bom, então, nós vamos...boa sorte, Duarte! – diz Serafim, agarrando nas suas coisas.
- Obrigado, mas eu não preciso, não é querer-me gabar, eu sobrevivo, afinal de contas, sou o Cangalheiro de Cartuxa City, o Homem que mata para lucrar! – diz Duarte – boa sorte Bruno, espero que encontres o que procuras...adeus meus amigos, foi um prazer, talvez nos encontremos outra vez!
- Adeus!
- Adeus!
O Sol está a nascer, e Duarte, sai da gruta de madrugada, em direcção à vingança...
- O que é que tu procuras? – pergunta Serafim
- A morte... – diz Bruno, muito sério.
- És suicida? – pergunta Serafim assustado.
- Não...tenho uma paixoneta por ela.
Entretanto, a grande cruzada de Serafim e Duarte, desde Cartuxa City até à gruta perto de Chesterfiel City demorou um ano.

1951, Chesterfield City, 09:30 da manhã
Duarte dá um passo de cada vez. Está todo transpirado, tem a barba por fazer, tem a roupa suja, tem um cigarro na boca, tem na mão uma caçadeira. As pessoas param o seu quotidiano para observar a chegada deste forasteiro, o que só significava uma coisa, sangue. O Xerife Coiso, armado em valentão e patrão, foi ter com o Duarte e disse:
- O senhor não leu o cartaz?
- Não sei ler... – diz Duarte, com chocolate em pó nos dentes, para parecer outra coisa...
- Não sabe ler? Parece-me que está a mentir.
Duarte ignora e continua a andar.
- Pois amigo – diz o Xerife – não é permitido o uso de armas dentro da minha cidade, vou pedir que as entregue...
Duarte tinha a caçadeira na mão, mas também estava todo armado pelo o resto do corpo, era pistolas, granadas, facas, bazucas, por isso é que dava um passo de cada vez, de tão carregado que estava.
- Então peça – diz gozão.
- Dê-me as suas armas – diz o Xerife valentão.
O Xerife cai morto no chão, levou uma facada do Duarte. Um velho de cadeira de rodas, que observou aquela cena, disse, armado em justiceiro:
- MATOU O XERIFE! VAMOS ENFORCA-LO!
Duarte apontou-lhe a bazuca, e disse:
- Come e cala-te! – carregando no gatilho.
Chegou ao saloon. Largou a bazuca, porque já não tinha balas para a carregar.
Entrou e gritou:
- RITA! RITA NÃO MARQUEES! Aparecee, ou a gente te esquecee...
- Estou aqui... – diz Rita, corajosa, levantando-se da mesa, onde estava a jogar poker com a Disfarçada e o seu bando.
- Rita...eu quero a minha vingança... o que tu fizes-te não se faz...
- E o que queres fazer então?
- A barba, já está a incomodar, mas depois, quero um duelo, tu e eu, ao calor do Sol, ao som do vento...nós os dois...o que dizes?
- Não podia ser antes uma roleta russa?
- Não que tu és batoteira...
- Então... – Rita olha para a Disfarçada que diz:
- Eu protego-te...
- ENTÃO? – berra Duarte impaciente.
- Vamos, às 12:00 meu camelo, e vais aprender a ficar de boca calada...
- Muito bem, encontramo-nos às 11:55, ali na rua, para existir um clima de insultos e tensão...


1951, Chesterfield City, Rua Principal, dia 5 de Julho
- Saca da pistola sua canalha! – diz Duarte, de chapéu de cowboy na tola, cigarro na boca e escarra no chão.
- Espera pelo o toque, Old Dog! – diz Rita, em posição de lutador de sumo, prestes a puxar do revólver.
São 11:59. Falta um minuto para a hora do almoço, um minuto para começar o duelo. Estão no meio da rua daquela cidade, frente a frente, no meio do deserto americano, a levar com um Sol ardente. Uma grande multidão observa contente este confronto, “a gente quer é sangue”, pensam eles. Toca o sino da Igreja, hora do duelo, mas também hora do almoço, por isso dão todos meia volta e vão almoçar.
- HEI! ERA AO MEIO-DIA! – grita Rita.
- TENHO LÁ CULPA! EU QUERO-ME VINGAR, MAS ALMOÇO É ALMOÇO!
- CANALHA VAIS MORRER! – grita Rita, que saca lentamente da pistola, Duarte olha-lhe nos olhos, um olhar frio, que aprendeu com uma pessoa à alguns anos atrás...Rita assusta-se, mas saca da pistola à mesma, vai para disparar...mas morre porque o Duarte já tinha a pistola sacada há muito tempo. Rita cai no chão lentamente, o público que ainda não tinha ido almoçar aplaude e abala.
Mas de repente, como estava destinado, o Duarte leva um tiro na orelha direita...que veio do cimo da Igreja do sítio, e cai no chão de joelhos. Foi a Disfarçada, que observou o combate, e de seguida, desce aos pulos até ao Duarte, a cantar o “Estrala a Bomba”. Pára à frente dele e diz:
- Desculpa...
- Eu queria te matar a seguir...matas-te o meu filho...
- Não fiz isso, ele está são e salvo, na tribo dos Embaló...
- Está?
- Está...mas agora ouve com atenção, eu tenho o antídoto, que te pode salvar, diz-me onde está a Juju, e vives, não me dizes onde ela está, morres...
- Então adeus... – diz Duarte que se deita no chão...
- Não! – grita Disfarçada – peço-te, diz-me onde ela está...
- Só se prometeres deixar o Serafim e o Bruno em paz, e o Martim também...
- Eu prometo...
- A Juju...- Duarte olha para os olhos da Disfarçada, que tinha um lenço a tapar-lhe a boca e o nariz... – tu... – e morre.

Tribo dos Embaló, dia 5 de julho
Vêem ao longe tipis, as tendas dos índios, e avançam na sua direcção. São travados por montes de índios, que apontam-lhes lanças e setas. Um grande homem aparece, robusto, forte, poderoso, valente, sim, o chefe dos índios, Papa Azeitona.
- HAU! – diz Ivan
- Está tudo bem, caro senhor, aleijou-se? – pergunta Serafim, preocupado e simpático.
- Chiu, eu falo – diz Bruno – HAU! Saudações Grande Chefe Papa Azeitona!
- Hau! Cara-pálida de nariz grande.
- Grande chefe perdoar ignorância de Cara-pálida Serafim.
- Ignorância perdoada e ignorada.
- Obrigado, Grande Chefe.
- O que fazer cara-pálida em terra dos Embaló?
- Grande Chefe vai perdoar invasão de caras-pálidas, mas nós vir em paz, e estarmos em busca de papoose de cara-pálida Serafim
- Nós perdoar invasão, mas nós não saber nada de papoose de cara-pálida Será o Fim.
- Mas... – diz Serafim, que começa a ficar agitado.
- Deixa que eu trato disto – diz Bruno.
- EU FALO! – grita Serafim, muito irritado – EU QUERO O MEU FILHO! DÊEM-ME O MEU FILHO! – puxa da navalha e agarra no chefe Ivan – DÁ-ME O MEU FILHO!
- Larga-o! – grita Bruno enquanto separa-os.
- Grande Chefe estar intimidado – diz Ivan com medo – nós depois de grande reflexão, decidir que afinal ter papoose, e nós devolver papoose, mas tu dar água-de-fogo!
- Água-de-fogo? – pergunta Serafim ao Bruno.
- Whiskey, eles são viciados, nós concordar grande Chefe.
- Tu, Rato Malhado, trazer papoose Martini aqui, eu, como grande Sachem da Tribo, propor fumar cachimbo da paz, e oferecer pemmican a vocês.
- Nós concordar, Serafim, vai buscar whiskey.
Aparece então, no meio da festa,Martim, e ambos, pai e filho, vêem-se e vão correr, felizes da vida, um para o outro, e abraçam-se como se não se vissem à um ano...e não viam...
Anoitece, e de longe, observa, gloriosamente, no cimo de uma montanha, de sobretudo que era do Duarte vestido, a Disfarçada, acompanhada por dois coiotes domesticados. A Disfarçada, que um dia será revelada.

Continua...