quarta-feira, 19 de maio de 2010

Cá-a a Boca 37 - O Tesouro da Juju

Depois dos acontecimentos de “A Gran Cruzada da Juju”

1951, Chesterfiel City, depois do Duelo entre Rita e Duarte
Rita está deitada no chão. Duarte também. É noite. A Disfarçada olha em redor, e não vê ninguém. Agarra nos dois, por ser muita forte e leva-os para um celeiro. Atira-lhes com um balde de estrume para a cara. Ambos acordam:
- Que nojo! – diz Rita despertada. Rita tinha uma pala no olho.
Duarte olha para Rita Não Marques e, esquecendo o estrume que tinha no corpo, agarra-lhe o pescoço e tenta sufoca-la, chamando-lhe terríveis nomes. De repente, leva com um bastão nas mãos:
- Calma Duarte! – diz a Disfarçada.
- O que é que tu queres ó lagarta coxa? – pergunta Duarte furioso – como é que eu estou aqui? Tu matas-te-me! E antes disso eu matei esta coisa ao meu lado!
- Esta coisa tem nome ó guarda portão de uma quinta! – diz Rita irritada.
- Voltas a dirigir-me a palavra dou-te nos cornos!
- Eu não tenho cornos ó cadela!
- ACABOU! – grita a Disfarçada, que, farta daquela conversa que não a envolvia, tira o capucho e revela-se, é a Filipa Oscilação.
- Tu... – diz Duarte – eu sabia...vi logo, naquele dia, quando olhei para os teus olhos, mas não havia olhos, apenas...
- Sim, já percebi, a situação é a seguinte, quero que trabalhes para mim Duarte... – diz a Filipa.
- Então e ela? Não?...ahahah foi excomungada... – diz Duarte a provocar a Rita.
- Ela já trabalha para mim.
Rita pôe a língua de fora.
- E porque eu haveria de trabalhar para ti? – questiona Duarte.
- Porque eu não te quero nada mal Duarte, pelo o contrário, o teu bem...quero partilhar o enorme tesouro da Juju...
- Nem parece teu Filipa...mas enfim, eu aceito...o que é que eu tenho de fazer?
- Coisas...
- E eu Filipa? – pergunta Rita, envolvendo-se na conversa.
- Tu vais ser a Disfarçada, enquanto eu, Filipa Oscilação, aparecer em público, para deixar incógnita a identidade da Disfarçada. E quando não estiveres no fato da Disfarçada, estarás numa mala, para as pessoas pensarem que estás morta. Comprende?
- SIM SENHOR! – diz Rita, pronta a servi-la.
- Sim senhora! – diz a Filipa, corrigindo a Rita – mas antes, Duarte, o que aconteceu entre ti e a Rita para estares tão irritado com ela?
- Deu-lhe um espasmo...
- Ahn? – pergunta Filipa
- Estavamos a conversar e de repente deu-me um chapadão, e disse que foi sem querer, que teve um espasmo. Da primeira vez ri-me, da segunda também, mas acontece que à terceira ela exagerou e quando o fez, eu cai em cima do meu porco de estimação, e ele morreu.
- Assassina... – diz a Filipa muito triste – então fazemos assim, se a Rita quando estiver com as vestes da Disfarçada, for descoberta, podes mata-la e assumir a liderança.
Duarte nada diz, apenas sorri:
- Concordas Rita? – pergunta a Filipa.
- Não! Obviamente que não! – diz Rita.
- Então mete uma rolha, que ordem minha é sagrada! – diz Filipa.
- Porque é que nos atiras-te com estrume? – pergunta Duarte.
- Para acordarem mais depressa...e não é estrume, é chocolate!
- A sério? – diz Rita que começa a comer o que afinal não é estrume.
- Não.

Castelo do Duarte, Caixinivel City, 1952, 28 de Novembro
Faltavam uns minutos para umas horas. Ainda era noite clarinha. Duarte, que fez uma pausa da campanha pelo tesoiro da Juju, achou por bem, convidar umas pessoas a sua casa, para provar que não era anti-social. Mandou, inclusive, convites a reis e rainhas, a presidentes, a gente importante. Mas ninguém respondeu. Por isso convidou antes a ralé, Serafim e Filipa, para uma jantarada e uma cartada. Mas os convidados tinham boca grande, e conversa puxa conversa, convidaram o Bruno, a Mariana, a Disfarçada e o Ivan. Duarte, permitiu. Queria provar que era um bom anfitrião. Depois, ao perceber-se que ia a malta toda, para fazer uma pausa da cruzada pelo tesouro, menos a Juju, teve uma rica ideia, transformar a jantarada numa reunião pela paz, para se unirem todos contra a Juju.
O Serafim foi o primeiro a chegar. Pudera, sabia que a comida era de graça. Os outros atrasaram-se. Mas Duarte e Serafim Saudade aguardaram. Para matar o tempo, assassinos, jogaram um pouco de bilhar, mas como o Duarte começou a perder, disse que o jogo era estúpido. Foram então ver uma partida de futebol. Na televisão, claro. Mas Serafim começou a criticar o Duarte por não perceber muito daquilo, e o Fernão deu meia volta e foi-se embora. Depois, lá desistiu do amúo e voltou, com o monopólio, mas o Serafim disse que não e mandou-o catar macacos. Ele foi. Os outros convidados nunca mais chegavam. Duarte regressou do catamento e contou uma piada seca. Não tinha graça nenhuma. Serafim olhou para ele. Duarte ria-se que nem um desvairado. “Não teve o mínimo de humor”, pensou Serafim, que, enojado e agoniado disse, atirando toda a raiva e desprezo para a sua única palavra proferida:
- Palhaço...
Duarte cessou o riso. Ficou muito sério. Não há palavras para descrever a sua reacção. A maneira como o Serafim o disse, o insulto em si, deixou o Duarte passado da cabeça. Palhaço era o pior insulto que se lhe podia fazer. Louco de raiva, e dono de uma fúria imensa, sacou da mão direita e, lentamente, deu um soco a Serafim, que caiu direitinho no chão, devido à potência do murro.
Duarte desata a rir. Serafim desata a chorar. Duarte aproxima-se do sofredor, e, no meio de uma gargalhada maléfica diz:
- Chora bebé, chora! Quanto mais choras menos mijas!
- Vou chamar o meu pai! – diz Serafim derretido em lágrimas.
- Então chama! – diz Duarte parando de rir – que dou-lhe porrada também.
A porta da sua casa arrebenta. Era o pai de Serafim. Veio defender a sua criação e espetou um pontapé na pança do Duarte.
A porta arrebenta outra vez. Era o pai do Duarte. Todo musculado. E ali, encorpado e irritado, dispara uma faca da sua mão em direcção ao pai do Serafim. Falhou. Mas logo de seguida investiu contra ele e encheu-o de porrada.
A porta arrebentou de novo. A sorte é que reparava-se sozinha. Era o avô do Serafim, pai do seu próprio filho, separou os dois, acabando com a pancadaria, e reprimiu o seu fedelho, agarrou-lhe a orelha e colocou-o de castigo, enquanto o pai do Duarte encomendou frango.
Por fim, Serafim, já quase sem forças, anestesiado com o Duarte em cima dele, decide recorrer à sua última fonte de recursos, à sua salvação. Chama a sua bisavó, Cacilda Serafim.
Cacilda Serafim. Assim que chegou impôs respeito. Ou era como ela queria ou não era. Como avó do pai de Serafim, fez o que qualquer uma faria, foi visita-lo à prisão onde ele aguardava, de castigo, oferecer-lhe bolos, engordá-lo. Ele ficou feliz, e ela foi-se embora, para defender o seu bisneto, que estava a levar um tareião do Duarte. Entretanto, alguém toca à campainha. O pai do Duarte vai todo feliz a correr, a pensar que era o frango, mas não, era a Filipa Oscilação, com uma garrafa de vinho tinto. Tira-lhe a garrafa e fecha a porta.
A campainha toca outra vez. O pai do Duarte já estava achar estranho, porque a casa não tinha campainha. Abre a porta. Era a Mariana e o Ivan, que traziam um bolo.
Tira-lhes o bolo e fecha a porta.
Bateram à porta. O pai do Duarte, Fernando Fernão, já se estava a passar. Abre a porta. Era o Bruno e a Disfarçada, que não traziam nada:
- Não trazem nada? – pergunta Fernando.
- Nãooo... – diz Bruno como se óbvio e engraçado.
- Que vergonha... – diz Fernando, fechando-lhe a porta na cara.
Os renegados, que permaneciam lá fora, apercebendo-se que não iam entrar pela porta, vieram pela chaminé. Fernando, que estava sentado, no sofá, em frente da lareira, ouve uns barulhos na chaminé. “Ainda não é natal. Só se. Veio mais cedo!” pensou sorridente.
Cacilda Serafim esticou a mão para dar um bom açoite no traseiro do Duarte, mas foi impedida, por Fernando que tinha um chapéu de natal e disse:
- O Pai Natal vem ai, está a descer pela chaminé!
- Mas ainda não é natal! – diz Cacilda.
- Se calhar este ano é mais cedo! – diz Serafim animado.
Fazem uma rodinha á volta da lareira. Mas quem caiu foi a Filipa, o Bruno, o Ivan, a Mariana e a Disfarçada caem todos juntos:
- Ohhh – dizem todos os que anseiavam o gordo de vermelho.
Cacilda olha para Duarte outra vez, estica a mão de novo para lhe dar um açoite, mas desta vez é impedida pela a bisavó do Duarte, que chegou na hora H, para salvar o seu querido bisneto, avó velhota”, como era chamada, que agarrou na sua bengala e...
E deu com a dita cuja na tola do Duarte, porque o “Dudu”, como estava meio abananado, pensou que era a sua velhota, mas afinal era a Juju Sahêmé que estava irritada por não ter sido convidada, e, como é obvio, levou-nos todos para um enforcamento.
Mas antes de nos levar ao enforcamento, ele apareceu para nos salvar, Chico Godinho, o Ranger do Texas, e avô do Duarte, que, com o seu poderoso chicote acertou na pata da Juju. Sorriu, pensando que tinha dominado a fera. Apagou o seu cigarro na própria mão, armado em valentão, e queimou-se, claro. A Juju, com a mão vermelha, sacou da pistola e deu-lhe um tiro. Chico “Fangio”, como lhe chamavam os amigos, porque uma vez enganou-se a dizer fingiu, caiu, e levantou-se, caiu outra vez, e morreu. Partiram então para a cerimónia do enforcamento, que era no sotão da casa.
Já na cerimónia, Chico, inédito, salta do caixão e solta uma frase: Ahahah, eu vou, mas volto! (sempre com a língua de fora). Duarte caí, impávido, e sereno, Cacilda Serafim ria, e ao mesmo tempo fazia uma ganza para todos comemorarmos, enquanto que a velhota do Duarte fazia cheesecake, para papar-mos!
Mas esqueciam-se de um detalhe, eles iam ser enforcados, e lembraram-se disso quando a Juju surgiu, com uma corda e disse: PONHAM-SE TODOS EM LINHA!
Eles, que remédio, obedeceram. A velhota do Duarte, que entertanto tinha aparecido, como a Nossa Senhora do Aparecimento, sentiu-se mal, devido aos cheesecakes, que fez supostamente para todos, mas não resistiu e gulosa, enfardou tudo, e pediu à Juju uma pausa para ir à casa de banho, e a Juju, apesar de maléfica, compreendeu e concedeu a pausa. E a comemoração prosseguiu...com a Juju a pedir um pouco de ganza a Cacilda, que fumou toda só para não partilhar.
Juju mocada com nada, porque a ganza foi-lhe recusada, com os olhos idênticos aos da Disfarçada Oscilação perguntou: Wi, dondé os casa de banho? Tenho di iri fazeri chichi! Saca da navalha e...parte uma fatia de cheesecake.
Sim, que o Duarte, conhecendo a sua velhota, escondeu um pouco de cheesecake, antes do mesmo desaparecer, e a Juju, mocada, conseguiu descobrir onde estava aquela sobremesa, e, gulosa, esqueçeu a vontade de ir ao WC e comeu-o tudo. Porque depois da primeira fatia vem as outras. Duarte, irritado, agarra no copo que tinha mais ao pé e atira à cara da Juju, mas no momento em que o copo arrebentou, juntamente com a cara da Juju, lembrou-se que pertencia à sua bisavó, e que por acaso era o seu preferido.
A “Avó velhota”, assim que ouviu o estrondo do copo feito de puro cristal, oferecido pelo Zuper Coelhe, sua paixão de infância, veio a correr do WC, com o cagalhão à porta, e perguntou quem foi. Duarte, esperto e ciente das consequências, culpou a Juju.
Momentos de tensão. A “avó velhota” estava louca de fúria. E quando parecia que a situação não podia piorar, Cacilda Serafim entupiu a sanita.
Mas a “velhota” conhecia muito bem o Duarte e chamou-o, muita falsa, para lhe dar uns miminhos, mas era mentira, ele aproximou-se, e PIMBA, levou um estalo. A Juju riu-se. Mas a “avó velhota” não gostava nada dela, por isso puxou da espada.
Lançou um mau olhado à Juju. Tirou o lenço preto da cabeça e descalçou os sapatos, para calçar as chinelas. Duarte percebeu tudo e foi buscar as pipocas. Ia haver porrada. Cacilda, que também percebeu a situação, porque fazia tricó com a velhota do Duarte, afastou as mesas e móveis para dar espaço ao duelo. Os outros puxaram das cadeiras e sentaram-se para observar aquele tremendo espectáculo. A Juju saca também de uma espada:
- Á CARGA! – grita a “avó velhota” que se auto-dispara em direcção da Juju. A Juju dá meia volta, largando a espada e dá de fuga. A bisavó do Duarte, irritada, persegue a Juju pela casa toda, andando lá as voltas, até que, a campainha toca outra vez. Fernando vai lá:
- Boa noite, o meu nome é Claúdio Pinheiro. – diz um homem minimeu, de nariz de batata, com uns óculos maiores que a sua cara, de boné na tola.
- Perguntei-lhe o nome? Não! – diz Fernando – o que quer?
- Vim entregar a pizza.
- Ninguém encomendou pizza...deve ser engano – diz Fernando.
- Não é engano nenhum! ISTO É UM ASSALTO! – diz sacando da pistola.
- Será... – diz Fernando olhando em volta, desprezando a afirmação do ladrão.
- Será o quê? Dá-me todo o teu dinheiro! TOU-TE ASSALTAR MACACO!
- Nunca mais chega o sacana do frango...
- Podias dar-me atenção? Por favor? – implora o mendigo assaltante Claúdio.
- Não estamos interessados... – diz Fernando fechando a porta.
O ladrão que fingia vender pizza passou-se com o desprezo e suicidou-se.
A Juju e avó velhota tinham desaparecido. Ninguém sabia delas. Duarte vira-se para todos e pergunta:
- Então? O que acham de nos virarmos todos contra a Juju? Como nos velhos tempos!
- Não...vamos manter os velhos grupos...eu, a Juju e a Filipa, e vocês ficam com a Disfarçada. – diz Serafim
- Mas porque é que não te queres juntar a nós? – pergunta Duarte.
- Porque és um bokó! – diz Serafim.
- Ai sou bokó? ENTÃO SAI DA MINHA PROPRIADADE SEU CAMELO! CORRUPTO! VENDIDO! VENDES-TE À JUJU! DESAPARECE! ESTÁS EXCOMUNGADO!
- O Serafim não vai a lado nenhum – diz Juju, que aparece toda esmurrada, escaranfuchada, a sangrar.
- A minha bisavó? – pergunta Duarte.
- Está aqui! – diz Juju erguendo a cabeça da “avó velhota”, separada do corpo.
- AI QUE HORROR! – diz Duarte.
Cacilda Serafim veste-se de preto, e chora, pela cabeça da “avó velhota”.
- Assassina... – diz Duarte.
- Pois sou e com muito gosto!
- Então e...também vamos morrer? – pergunta Ivan.
- Em relação a isso, tenho boas notícias. Apesar de não me terem convidado, vou-vos perdoar, e não vos vou enforcar...
- YEAH! – dizem todos, lançando chapéus e foguetes para o ar.
- Vou vos fuzilar! – termina maléfica – só não vos enforco porque não sei fazer o nó, e vocês, desagradáveis como são, não me ajudariam.
- Isso é verdade – diz a Rita a fingir que é a Disfarçada.
- Juju, pensa bem, tu não nos queres matar, queres é o tesouro! – apela Filipa.
- Relaxa Filipa, tu fazes parte do meu bando, assim como o Serafim...estão impunes...
- Ah...então podes matá-los à vontade. – diz Filipa.
- Bom, Serafim, Filipa, desapareçam...vão para a cidade que eu já lá vou ter...Bruno, sê bem-vindo de volta. – diz Juju.
- Ahn? O que queres dizer? – pergunta Bruno.
- Filipa, Serafim, ele vai connosco! Levem-no! – diz Juju autoritária.
- Sempre a trocar de grupo... – diz Bruno.
Bruno, Filipa e o Serafim dão de frosques. Permanecem na casa Mariana, Ivan, Duarte, Disfarçada, Fernando e Cacilda Serafim:
- Tenho sono, vou dormir – diz Fernando – às 11 horas quero tudo na cama! – termina autoritário.
- Eu vou quando acabar a minha novela – diz Cacilda.
- Ó pai, deixa ficar mais tempo... – implora Duarte.
- Está bem, às 10 horas! – diz Fernando.
- Ok...que porcaria – termina Duarte baixinho.
- Bom encostem-se à parede! – diz Juju sacando da bazuka.
- Juju, não seria melhor lá fora? Depois dás cabo da parede, e o meu pai passa-se e mata-te! – diz Duarte.
- Ele que venha! Ele e mais quinhentos! Agora depressa que eu quero ir-me embora!
- Então vai! – diz Duarte.
- CALA-TE! ESTÁS A METER-ME NOJO! – berra a Juju perdendo um parafuso.
- Caiu-te um parafuso... – diz Mariana.
- CALEM-SE! EU VOU-VOS MATAR! - grita Juju perdendo outro.
- Não grites, que eu quero ver a novela! – grita Cacilda.
- CALE-SE VOCÊ TAMBÉM! – grita Juju.
Cacilda não admite tal abuso e atira-lhe com um candeeiro na cabeça:
- Tão mal-educada, não admira que não tenha amigos – diz Cacilda.
- Cabeça dura – diz Duarte gozão – ainda está em pé, que maravilha.
Juju, embora meio abananada, mantém-se firme:
- Últimas palavras? – pergunta Juju – Pensando bem...não quero saber...adios! – termina Juju, que, lentamente, dirige o seu dedo indicador ao gatilho da bazuka. Estás prestes a disparar. Mas de repente, quando todos transpiravam de medo, o castelo do Duarte explode.
O que aconteceu? Bom, acontece que Fernando estava a fritar batatas, mas foi atender o telefone e sem querer, atirou um pano para cima do lume. O pano ardeu, de seguida ardeu a cozinha, e por acaso, algum espertinho pôs dinamite ali ao pé e voilá, auf wiedersen castelo do Duarte.


Juju abre a porta de sua casa. Ivan está encostado, com um ramo de flores na mão, de camisinha:
- Olá – diz Ivan sedutor.
- Xuxu – diz Juju que agarra no Ivan e espeta-lhe um beijo na boca.
Ivan Embaló. Num dia em que se encontrava meio drogado, meio louco, ajoelhou-se, sacou de um anel que roubou, e disse, em alto e bom som:
- Juju, queres casar comigo?
A moça aceitou. E agora os dois vão casar.
Ninguém sabe o que deu ao Ivan. Talvez foi obra do destino.

Igreja da Santa Custódia Pesadela
Milhares de pessoas vieram assistir ao casamento da Juju. É épico. A pessoa mais horrível à face da terra vai casar. Edgar Gregório, o falecido, estava ali, bem vivo e de saúde, abanar as banhas, enquanto Duarte tocava música de casamento. Era ele que ia presidir a cerimónia. Mariana, explorando as suas capacidades teatrais, chorava e chorava. Filipa atirava flores, enquanto pulava, toda feliz e contente:
- Meus queridos irmãos – disse o Gregório com a sua voz mais fina que sei lá o quê – estamos aqui reunidos para celebrar a milagrosa união entre Juju Sahêmé e Ivan Embaló, mas, antes de prosseguir, tenho de perguntar, existe alguém que se oponha contra esta sagrada união?
Juju olha para Serafim. Ivan percebe que algo está mau. Juju pensava “diz que te opões, diz, eu fiz-te ciúmes, diz que te opões e casa comigo”, enquanto olhava para Serafim. Sim, é verdade, a Juju usou o Ivan, hipnotizou-o, para fazer ciúmes a Serafim Saudade. Resultou? A ver vamos:
- Alguém? – insiste Gregório.
- Eu...- diz Serafim levantando-se – não só como não me oponho como felicito.
- E então, pelo o poder em mim investido, eu vos declaro...
- O QUÊ? – grita Juju perdendo as estribeiras. – TIVE EU ESTE TRABALHO PARA NADA? EU NÃO QUERO CASAR COM O IVAN! QUERO CASAR COM O MEU XUXU! XUXU! ANDA CÁ XUXU!
Serafim foge da igreja. Juju vai atrás dele. Ivan, desgostoso, desmaia.
Acorda.
Oeste Americano, Utah, 1953, 4 de Agosto
Ivan acordou no meio do nada, em frente de uma lareira. É pura noite. Tinha tido um pesadelo. Vê, ferrados a dormir, Duarte e Cacilda Serafim, enquanto Mariana permanecia acordada, armada até aos dentes, a vigiar:
- Mariana? – pergunta.
- Ivan, acordas-te, estava difícil...
- Há quanto tempo estive a dormir?
- Estives-te em coma desde de novembro do ano passado, sê bem vindo a 1953! Estamos em Agosto.
- O que é que aconteceu? – pergunta Ivan confuso.
- Quando a explosão ocorreu, foste o único que levou com um bocado do telhado em cima. Nós safamos-nos nem sabemos como.
- E a Juju?
- A sacana sobreviveu, depois da explosão, ela fugiu com o seu bando, e desde de então estamos atrás dela, graças à Filipa, que lança migalhas a toda a hora...
- Hum...a Rita?
- Foi apanhar lenha, com a “velhota”... – diz Mariana cerrando os dentes... – e diz Disfarçada, nunca se sabe quem está à escuta...
- Desculpa...a bisavó do Duarte está viva?
- Sim...ninguém conseguiu acreditar quando ela apareceu, mas afinal a cabeça que a Juju mostrou era falsa...a Vinita, que é o seu verdadeiro nome, cansou-se de a perseguir e foi tomar banho.
- Ah...
- Pois...
No dia seguinte, fazem-se à estrada, e perseguem a pista deixada pela Filipa. Cacilda Serafim tinha embarcado na viagem em busca de aventura, e a Vinita veio com ela para lhe fazer companhia. A Falsa Disfarçada ( a Rita), foi contra a introdução destas duas membros no grupo, dizendo que elas as iam atrasar. Mas estava enganada. Não só não atrasavam como eram mais rápidas. E mais, cozinhavam bem e em grandes quantidades. Foi uma maravilha.
A Filipa, polvo de serviço do bando da Disfarçada, infiltrada no bando da Juju, arranjava maneiras de atrasar o grupo, para a Disfarçada Rita e os outros apanhassem-os. Desde de pedras nos sapatos até urtigas na bebida, a Filipa alcançou os efeitos desejados. E a Juju, cega pelo o ouro, nem se apercebeu que estava a ser perseguida, e quando deu por si, estava rodeada pelo bando da Disfarçada.
Bruno, que tinha ido com a Juju, a Filipa e o Serafim, tinha uma metralhadora na mão. Serafim, um gelado enorme, porque estava calor. Filipa, uma pistola de madeira, para os intimidar, e a Juju, uma navalha. Não tinham hipóteses. O Bando da Disfarçada estava melhor equipado e armado. Á Direita, estava Duarte, em cima de um cavalo que apelidou de Serafim, com um revólver na mão. Á esquerda, Mariana, em cima do seu camelo, armada até aos dentes. No centro, a Disfarçada, sem nada porque não tinha pontaria. A sudoeste, Cacilda Serafim, com uma régua de madeira na mão, e noroeste, Vinita, a “avó velhota”, com um chinelo na mão.
- Juju...- diz a Disfarçada – poupa o massacre do teu grupo e sobe para o cavalo para nos levares ao tesouro.
- Está bem... – diz Juju, depois de uma curta hesitação - ...Rita.
Ficaram todos espantados com aquela afirmação.
- O que queres dizer com Rita? O meu nome é Disfarçada – diz a Disfarçada.
- Tão tola...julgas mesmo que sou burra...eu sei que não é a Disfarçada por detrás dessas vestes...a Disfarçada não usa pala no olho, a Disfarçada não tem sardas, e tu tens, vejo daqui duas...devias tapar melhor...por isso sim, tu és a Rita Não Marques. – diz Juju, armando-se em detective.
- ALELUIA! Obrigado Juju... – diz Duarte saindo do cavalo e fazendo uma vénia.
- De nada...acho...
- Podes descer Rita. – diz Duarte, apontando-lhe o dedo.
Rita desce nervosa, pois sabe o que lhe espera.
- Não queres pensar sobre isto? – pergunta a tremer.
Duarte olha para a Filipa, que lhe acena afirmativamente:
- Não...já foste...retira as vestes...
Rita retira a fardamenta da disfarçada, mas atenção, tinha roupa por baixo:
- ULTIMAS PALAVRAS? – pergunta Duarte animado.
- NÃO ME MATES! – grita Rita desesperada.
Duarte saca da pistola:
- NÃO A MATES! – grita o Ivan.
- Tem calma Duarte – diz o Bruno.
- METE A CALMA PELA A GOELA ABAIXO, EU VOU MATA-LA, MORREEEEE! – grita Duarte sorrindo e eufórico, premindo o gatilho.
A Rita morre, Duarte vira-se para o bando da Disfarçada e diz:
- Aplausos se faz favor, foi um tiro perfeito.
Aplaudem Ivan, Mariana. Cacilda joga às escondidas com Vinita, e estavam totalmente à parte da situação.
- Porque a matas-te? – pergunta a Juju.
- Ordens da disfarçada! Agora saiam dos cavalos, ajoelhem-se, e digam o que eu quero ouvir... – diz armado em superior, e colocando uma capa.
- Avé Duarte, nosso novo líder!
- Obrigado, obrigado...e, como primeiro acto, dêem o corpo da Rita aos coiotes... – diz Duarte maléfico... – então...Juju...para onde vamos agora?
- Bom...o tesouro fica ali...vamos, eu guio-vos...vou à frente... – diz Juju, depois de apontar para ali ao pé.
- É perto? – pergunta Mariana.
- Sim...
- Então vá, quanto mais rápido lá chegarmos melhor – diz Duarte. - ANDIAMO! ACELEREM!
Metem-se todos nos cavalos, e vão a galopar alegremente e ferozmente, como se fosse uma corrida. Chegam ao destino, e ficam frente a frente com um velho templo em ruínas:
- FINALMENTE! – diz a Juju pulando do cavalo... – o templo do Deus Saudade! - esboça um sorriso de alegria – Aqui foram enterrados alguns dos mais podero...
- Sim, sim, mostra-nos mas é o tesouro – diz a Mariana, mostrando a sua face de mercenária, com uma faca no meio dos dentes, estragando o momento de entusiasmo da Juju.
Entram dentro do Templo. As paredes estão recheadas de desenhos e escritos antigos. Acendem os archotes, pois está escuro:
- Olha Ivan – diz Serafim ajoelhando-se – escrita portuguesa, aqui, em Utah, num templo com mais de 9000 anos... – diz Serafim muito interessado... – MEU DEUS! Aqui está escrita toda a história da Atlântida...
- Espectáculo – diz Ivan feliz observando os desenhos – isto é história e arte, olha aqui Duarte – aponta para os desenhos.
- Podia estar melhor – diz Duarte reprovador – vá Juju, leva-nos ao tesouro...
Juju avança na direcção de uma porta, que está cheia de pó e areia, e assopra, para ler o que lá está escrito...
- Tu que ganancioso aqui vieste, volta para trás! – diz Juju – é o que aqui diz...
- O que significa? – pergunta Duarte– será alguma rasteira?
- Não...basicamente diz não abras a porta... – diz Juju.
- Está bem, isso não interessa para nada, vá abre a porta, andor, quero o OURO, ESTÁS OUVIR? QUERO O OURO – termina a gritar Mariana, que se provou mais gananciosa que a ganancia.
Filipa tenta controlar-se, pois apesar de ter dito que não lhe interessava o ouro...era isso que ela queria, desde de pequena...desde de que se tornou na disfarçada.
- Está bem vossa alteza, não a sabia de tais ganancias – diz Juju, colocando a chave na porta.
Cacilda e Vinita tinham ficado lá fora, a fazer camisas de manga curta, pois é verão e querem ganhar umas coroas.
A porta abre-se, a Juju suspira e vai para entrar, mas é empurrada pela a gananciosa da Mariana, que entra toda feliz e excitada:
- Credo...é mesmo gula essa Mariana, VAIS TER DE DIVIDIR Ó PARVALHONA! – grita Serafim.
Entram todos lá dentro:
- Bom...é aqui, a sala do tesouro – diz Juju.
Era uma sala minúscula, com ouro, mas muito pouco, e com móveis velhos e partidos:
- O quê? É isto o teu tesouro? Estas velharias? Estas ninharias? – pergunta Serafim à Juju.
Juju não responde.
- Eu não acredito, EU NÃO ACREDITO! VIM EU DO CU DE JUDAS PARA ISTO? DEVIA-TE MATAR AQUI E AGORA! – grita Mariana na direcção da Juju, com a caçadeira na mão.
- CALMA! Relax...a Juju tem certamente uma explicação para isto, não tens Juju? – pergunta Duarte.
- Deve ter sido saqueado, isto estava cheio, é verdade, estava abarrotar, foi dificil por tudo cá dentro... – diz Juju desculpando-se.
- Eu sabia, eu sabia que nos ias enganar... – diz Ivan – não existe tesouro, é tudo mentira! Só existe este ouro – diz Ivan agarrando umas moedas – e ainda por cima falso.
- MENTIS-TE-NOS! – grita Mariana.
- Não...é verdade que o tesouro existe – diz Juju agarrando numa caixa que lá estava – só que não está aqui...
- O quê? – pergunta Duarte - trouxesses-te nos ao lugar errado?
- Eu vim aqui buscar uma chave...- diz a Juju – e planeava prender-vos a todos aqui, fugindo eu, mais o meu bando, a Filipa, o Serafim e o Bruno ...os outros, olha, azar...
- Pois, acho que vamos te enforcar – diz Mariana.
- Também me cheira... – diz Duarte.
- MATEM-NA! – grita Ivan
Os três avançam na sua direcção quando ela puxa uma alavanca e diz:
- Acho que não...
Um monte de fumo espalha-se pela sala, a Juju desaparece, com a caixa, com a Filipa, Bruno e Serafim, trancando a porta, pois conhecia aquilo como a palma do pé. O fumo desaparece:
- ABRE A PORTA! – grita Duarte tentando arrebentar com a mesma. - Mariana, tens dinamite?
- Não...
- Estamos tramados não estamos? – pergunta Ivan.
- Estamos – diz Mariana.
- Não estamos nada, vamos arranjar maneira de sair daqui...
Mas era mentira, já não iriam conseguir, pois algo aconteceu:
- QUE NOJO! – grita Mariana apontando para a tola do Ivan.
- CALA-TE! – diz Duarte – Ivan, tem calma, não te mexas.
Ivan tinha um escaravelho em cima da cabeça:
- O que se passa? O QUE SE PASSA? O QUE SE PASSA?
- Tens um escaravelho na cabeça, eu vou mata-lo, mas tens de manter a calma...
- Está bem. – diz Ivan nervoso.
Duarte saca lentamente da pistola, e aponta para o escaravelho, mas de repente ouve o escaravelho a guinchar, e outros tantos aparecem:
- Meu Deus... – diz Mariana.
- Vamos todos morrer... – diz Duarte apontando a pistola à sua cabeça.
De repente o Ivan começa aos gritos, pois estava a ser devorado por escaravelhos. Duarte suicida-se e Mariana arranca o pelo da vida, morrendo.
Cacilda e Vinita, que estavam lá fora, vêem o bando da Juju a fugir a uma velocidade tremenda. Vendo que aventura estava escassa, deram meia volta e foram-se embora.
Mas, lá dentro, no templo, Duarte acorda, olha em volta, tinha sido tudo um sonho, o fumo que empestou o ar, era para por as pessoas a dormir. Sentia-se diferente, mais leve, mais novo. Os outros acordaram, a Mariana e o Ivan, sentindo-se também diferentes. Ivan conseguia tocar com o pé no nariz, e Mariana andava aos saltos, pela sala, toda feliz, largando flores.
O fumo mudou completamente a maneira de pensar daqueles jovens, que se foram embora do templo, esquecendo completamente que andavam atrás de um tesouro, espalhando uma mensagem de amor e liberdade.

Oceano Atlântico, 1953, dia 1 de Janeiro
Passaram alguns anos. Juju, decidida em enriquecer, meteu-se num avião, com o Bruno, a Filipa e o Serafim, para ir à Madeira, onde era a antiga Atlântida, mas, por obra do destino, o avião deles caiu, de falta de gasolina, e morreram todos, ficando a dormir eternamente, debaixo do mar.
Pensavam eles...
Filipa abre o olho. Está debaixo do mar. Olha em volta. Vê uns peixes feios a nadar à sua volta. Vê o avião, mesmo ao lado do falecido Titanic. Vai a nadar para o aeroplano, destruído, todo amarrotado. Aproxima-se de uma das 3 mil janelas do avião, e vê o seu reflexo. Era um cavalo marinho. Neste caso uma égua marinha. Perante estas circunstâncias, dá um grito de horror. Como é que isto aconteceu? Perguntava ela a si própria. De repente, enquanto Filipa estava sob depressão aguada, aparece Juju, sob a forma de polvo, portadora da resposta à pergunta, acompanhada por Serafim, peixe balão que tinha o Bruno, uma raia, amarrado, como um cão :
- JUJU? – pergunta Filipa eufórica.
- Sim...sou eu... – diz Juju.
- Então e nós? Não existimos? – pergunta Bruno a Serafim.
- Faz como eu, quando ela te perguntar alguma coisa, ignora, ou diz algo estúpido... – diz Serafim sábio.
- Ok...
- O que é que nos aconteceu? – pergunta Filipa.
- Minha cara, lembras-te daquela coca-cola que te ofereci?
- Sim... a que mais parecia veneno...
- Era veneno...
- O QUÊ? – grita Filipa, baixando de seguida o tom – mas, isso não faz sentido, porquê é que estou viva então?
- Porque aquele veneno pouco gostoso não matava...mudava...
- Ah?
- Sim...foi aquele veneno, que nos transformou, em seres marinhos...
- O QUÊ? ESTÁS A BRINCAR COMIGO Ó QUÊ CA...
- Como achavas que íamos entrar numa cidade que está debaixo do mar? A voar?
- Sei lá...com fato de mergulho...
- Foi considerado, mas era caro...e isto sai mais barato...bom, agora vamos, temos apenas mais meia hora, antes que o efeito acabe.
- E se acabar? – pergunta Filipa.
- Morremos afogados... – diz Juju muito séria.
Momento de silêncio. Até que Filipa, apercebe-se de que o Bruno e o Serafim ali estavam, desprezados, ignorados, à parte:
- Então amigos? – pergunta ela, toda falsa – porque estão tão longe?
- Porque não estamos tão perto. – diz Bruno, lembrando-se da palavra de Serafim.
Serafim pisca-lhe o olho. Fazem-se ao caminho. Juju, explica ao grupo a importância de Bruno, que só ele, abria a porta, da Atlântida, e que não lhe cortava a mão por pena, e avisou, armada em sábia e conhecedora dos caminhos para a Atlântida, sobre as correntes marítimas, que podem puxar e levar-nos para longe.
De repente, ia Juju cantando alegremente, quando é puxada pela corrente:
- SOCORRO! – gritou desesperada.
- Que horror! – disse Filipa usando capacidades teatrais aprendidas com Mariana – Vou-te salvar!
- SALVA A JUJU! – grita Serafim desesperado – ELA É QUE SABE ONDE ESTÁ O TESOURO.
Filipa, macaca, simula o salvamento da Juju, apenas fingindo, deixando-a ser levada pelas correntes, esperando que ela morresse...para ficar com o tesouro só para si.
Juju desaparece na vastidão do oceano. Serafim, homem beato e de grandes virtudes, tira o chapéu imaginário, e diz algo bonito sobre a Juju, muito triste, muito em baixo:
- Juju, foste a mulher mais...com mais...foste a pessoa mais...vamos sentir a tua falta. Amén. – termina em lágrimas.
- Ámen – diz a Filipa falsa e o Bruno indiferente.
- Bom, mas a vida é assim mesmo! – diz Serafim – Vamos, temos um tesouro para apanhar.
O Tempo está apertado. Passaram por um monstro marinho que guardava a Atlântida, mas a ganância era tanta que mataram-no logo. Cheguem à porta. Estão ainda debaixo de água. Bruno mete a mão na porta e a dita abre-se e voilá, eles entram e a porta fecha-se outra vez. Já são pessoas de novo. A meia hora concedida acabou mesmo em cheio. Estavam numa sala seca. Uma sombra faz ecoar uns barulhos, barulhos de meditação. Aprochegam-se da dita cuja. Bruno diz:
- Dejá vu.
- Já visto...já aqui estiveste – diz Filipa – lembras-te?
Bruno fica pálido. A sua enorme penca parece diminuir. Parece apenas, continua do mesmo tamanho. E recorda-se. Recorda-se da história do Cristal, do tesouro, da Atlântida:
- JÁ ME LEMBRO! – grita bem alto, levando um pontapé de seguida.
- EI! – diz Filipa puxando da pistola.
Serafim, a quem esta situação não dizia nada, sentou-se no chão e pôs-se a ler os escritos antigos nas paredes.
- Tu... – afirma uma voz grossa como se conhecesse a Filipa, que possuía sobre o seu corpo uma fardamenta de ninja. Foi este ser, que colocou o Bruno no estado inconsciente – não sei quem és...
- O meu nome é Filipa Oscilação...e venho em paz – diz tentando ser diplomática, guardando a bisnaga.
- Aldrabona...- diz o ser, tirando a mascara – o meu nome é T...Cobra Venenosa, sou a guardiã do Cristal, e vocês não são bem vindos, eu sei o que procuram, mas não o encontrarão aqui.
Era uma pessoa estrábica, de cara deslavada, dente de ouro e tinha barba. Tinha calçado um sapato azul de porcelana no pé esquerdo. O direito estava nu.
- Guardiã...nós viemos em paz, não queremos fazer mal... – diz Bruno erguendo-se, recuperado do sono.
A Cobra olha para ele. Ele mascava pastilha. Ruminante, pensou ela. Ele olhou para ela. O olhar da cobra era frio, ruim. O Bruno metia-lhe nojo. O seu mastigar, efectuado de boca aberta, para mostrar a saliva. A barba por fazer do Serafim. Os olhos fechados da Filipa. A cara de gozão do Bruno. A Cobra irritou-se e não foi de modas. Matou-o.
Bruno sorriu, era a morte, que ele tanto procurava:
- NÃO! – diz Filipa horrorizada com o falecimento do Bruno.
- Para quê tanto drama? – pergunta a Cobra muito calma – já não precisavas dele.
- Também é verdade – diz Filipa.
- Chega de paleio – diz Serafim levantando-se – diz-me onde está o tesouro!
- Não está aqui... – diz Cobra – foram, decerto, enganados pela Juju.
- Como sabes da Juju? – pergunta Filipa chocada.
- Eu sei tudo... – diz a Cobra sábia – não é querer-me gabar...
- Prova-o! – diz Serafim desafiador.
- O que queres saber? – pergunta a Cobra.
- Quem é...a Disfarçada? – pergunta como se fosse um choque.
Filipa implora à Cobra para não fazer tamanha revelação. A Cobra concede dizendo:
- A Disfarçada não está nesta sala. A Disfarçada não é a Filipa Oscilação...mas sim...a...
- Juju! – diz Serafim interrompendo – como não me apercebi...era tão óbvio.
A Cobra cala-se.
- Bom...e agora...a Juju morreu...nós não temos tesouro...o que fazemos? – pergunta a Filipa que é a verdadeira Disfarçada.
- Questionamos a nossa mente – diz Serafim
- Questiona tu que eu jogo às cartas com a Cobra...que me dizes? Peixinho? – pergunta a Filipa à Cobra.
- Canastra... – diz a Cobra sorrindo, mostrando os dentes imundos e o dente de ouro.
Serafim entra no seu cérebro. Abre gavetas em busca de uma questão interessante para colocar à sábia Cobra.
A Filipa faz batota. A Cobra sabe-o mas está bem disposta e tolera. O relógio faz tic-tac, apesar de não existir nenhum relógio na sala:
- EUREKA! – grita Serafim – Tenho uma pergunta para ti Cobra...
- Dispara...
- Porque é que nós, andamos de trás para frente, estamos ali depois já não, somos maus depois bons? Essa...é a minha questão. Quer dizer, eu nasci em 1993, e estou aqui, em 1952.
A Cobra ergue os braços e diz:
- A morte chegou aos vivos.
- Ah?
- Tu, juntamente com os “nós”, que são os anti-Juju, estão mortos...morreram, há muito tempo atrás, assassinados pela Juju...sim, foi triste, isto, onde vocês estão, é o purgatório.
- O quê? Isso não faz sentido nenhum! – diz Serafim.
- Ai não?...então pensa...quantas vezes morres-te e depois apareces-te outra vez? Vivo e de saúde?
- Eu...
- Quantas vezes foste outra pessoa? Quantas vezes matas-te alguém e esse alguém apareceu de novo?
- eu...
- Tu e tu...ouve bem Serafim, tu estás morto, e tu também Filipa, e isto, é o purgatório, e eu estou aqui para avaliar a vossa entrada no céu. Não...é mentira, o purgatório foi comprado pelo o Inferno, porque o dito estava cheio, e agora isto é o Inferno e eu sou o Diabo!
- MAMA MIA! – diz Serafim assustado.
A Cobra desmancha-se a rir. Era mentira:
- Acreditas-te mesmo em mim...que tolo...agora a sério, vou revelar...vocês...
A Cobra cai no chão. Adormeceu porque a Juju espetou-lhe um dardo na carola. Ela estava viva e molhada:
- JUJU! – dizem eufóricos – Estás bem!
- Seus falsos! Abandonaram-me. – diz deslocando uma pedra daquela sala, tirando de lá um mapa.
- Nós? Falsos? Tu é que nos enganas-te... – diz a Filipa
- Sim é verdade, e vou-vos deixar aqui, à mercê do destino, enquanto vou ao verdadeiro local do tesouro enriquecer. Eu enganei-vos, usei-vos, sim sou cruel, mas faço isto pelo papel!
- Maléfica, eu confiei em ti! – diz Serafim triste.
- Foste burro, mas se quiseres podes vir comigo xux...digo Serafim.
- Sim, claro, depois disto tudo vou mesmo contigo...
- Então não venhas, mete uma rolha, au revoir mes compines! Morram que eu vivo!
Juju que apareceu do nada, desapareceu sem darem conta. Nem sabem como. Mas também, ela conhecia aquilo bem, e fugiu, deixando-os presos com a Cobra, que acabou por não revelar nada, porque o dardo retirou-lhes os poderes da sabedoria.

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